Batalha pelo Oscar 2011 | Parte II | Categorias Técnicas
E chegamos à parte II do especial sobre o Oscar! Aqui, daremos uma olhada nas sempre interessantes categorias técnicas, sem as quais o filme não seria o mesmo. Vamos lá:
Ajudando a transformar a visão do diretor em realidade, o diretor de fotografia possui um dos mais importantes cargos, analisando luzes, cores, sombras, mise en scène, entre muitos outros… Os indicados são:
A Origem | Wally Pfister
Mais uma vez trabalhando com Christopher Nolan e mais uma vez sendo indicado ao Oscar, Wally Pfister se supera na composição visual do complexo mundo de A Origem. Vale destacar o uso de reflexos e espelhos, que ajudam a simbolizar a constante discussão de sonho e realidade e como a paleta de cores alterna em cada estágio da missão: frios, quentes, pasteis, sombrios, claros…
A Rede Social | Jeff Cronenweth
Mais um exemplo de mistura de tons, só que dessa vez eles se misturam em uma única tomada, como na foto acima, que mistura cores fortes e coloridas em um ambiente quente, em um mise en scène fabuloso que utiliza-se de diversos computadores espalhados pelo cenário e usuários praticamente hipnotizados; simbolizando uma boa amostra sobre o uso excessivo da tecnologia. Sendo Fincher na direção, o filme tem uma aparência de gênero policial…
Bravura Indômita | Roger Deakins
Grande Deakins, fotógrafo habitual dos irmãos Coen, mais uma vez marca presença nas indicações ao transpor às telas o bem-humorado faroeste de vingança. Deakins apresenta uma paisagem mais bela do que a outra, retratando aquele período com tons pasteis nas cenas diurnas e sombras elegantes nas noturnas, contribuindo para a construção emocional – especialmente no clímax – e visual.
Cisne Negro | Matthew Libatique
A base é praticamente uma só: o constraste entre luz e sombras. A fotografia traduz de forma eficaz essa dualidade, apresentando um tom predominantemente frio e sombrio. Destaco (mais uma vez), os planos em que é possível acompanhar a ação de um personagem e a reação de outro, graças ao espelho.
O Discurso do Rei | Danny Cohen
Não possui muita relevância nas cores ou nas luzes, mas contribue narrativamente na visão do protagonista. Sempre nos cantos da tela, sua falta de orientação muitas vezes é simbolizada pela neblina (nesses casos, temos uma bela fotografia) e os mise en scènes que em diversos momentos, mostram a fraqueza de Bertie perto dos outros personagens.
Ficou de fora: Deixe-me Entrar | Greig Fraser
Predominantemente sombria, as noites geladas do Novo México são capturadas com perfeição e beleza pelo. Tons quentes, posicionamentos estilosos e uma cena de capotagem inesquecível deveriam ter sido lembrados.
APOSTA: Bravura Indômita
QUEM PODE VIRAR O JOGO: A Origem
Para povoar a história de personagens e situações, cenários – sejam digitais ou construídos – são essenciais, assim como a equipe que os desenha/projeta antes de construí-los. Os indicados são:
Alice no País das Maravilhas | Robert Stromberg e Karen O’Hara
Mesmo achando Alice um filme lindo e repleto de cenários maravilhosos, a Academia já premiou Avatar ano passado e dar o prêmio para o novo de Tim Burton sairia repetitivo (como têm acontecido categoria de Figurinos). Ainda assim, são paisagens dinâmicas e psicodélicas.
A Origem | Guy Hendrix Dyas, Larry Dias e Douglas A. Mowat
Predominantemente contemporâneos, os magníficos cenários de A Origem chamam a atenção por sua aparente normalidade, mas logo percebe-se a estranheza de locações (como os paradoxos da escada de penrose) e o esplêndido trabalho de arquitetura, quase sempre oferecendo lugares luxuosos e sofisticados. E, claro, todos eles (menos o surreal Limbo) foram construídos de verdade. Clique aqui para mais cenários.
Bravura Indômita | Jess Gonchor e Nancy Haigh
Recriar o Velho Oeste nunca é fácil (se errado, o filme pode se tornar um desastre), mas a equipe de Bravura Indômita faz um trabalho autêntico. A pequena cidade em que se passa grande parte da trama é quase palpável devido a tamanha atenção aos detalhes, mas também como os diretores fazem bom uso dela, sempre mostrando-a de diversos ângulos. As demais paisagens, são excelentes e ganham atenção especial pela fotografia de Roger Deakins.
O Discurso do Rei | Eve Stewart e Judy Farr
A Inglaterra do Século XVIII é bem recriada aqui, acertando nos objetos de cena – como telefones e pratarias – e nos luxuosos cômodos do Rei George VI. No entanto, a produção poderia ter feito uso melhor deles, considerando que muitas cenas se passam no consultório de Lionel (bem simples) e os verdadeiros cenários luxuosos que caracterizam a monarquia aparecem pouco.
Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 – Stuart Craig e Stephenie McMillan
É bom ver a saga de Harry Potter ganhando reconhecimento por seus grandiosos cenários. No design do penúltimo filme, destaca-se o Ministério da Magia, presente desde o quinto filme (mas esnobado na categoria), apresentando um visual dark, meio de época e gótico. Os outros cenários também são caprichados.
Ficou de Fora: Ilha do Medo
Com imensos valores técnicos, o suspense de Scorsese destaca-se por – além de muitos outros fatores, obviamente – seus caprichados cenários e paisagens, de época, mas com um leve toque sinistro; quase gótico, alguns chegando a ser labirínticos (com a Ala C). A computação gráfica ajuda sutilmente, a criar ambientes memoráveis.
APOSTA: A Origem
QUEM PODE VIRAR O JOGO: O Discurso do Rei
Se há um departamento que é essencial – e também um dos meus preferidos – é a montagem. É preciso habilidade para montar o filme, lhe fornecer o ritmo e tom apropriado e, claro, eliminar cenas desnecessárias. Os indicados são:
127 Horas | John Harris
Tiremos o elefante da sala: 127 Horas roubou a indicação de A Origem. Deixando a polêmica de lado, a edição do longa de Danny Boyle é trabalhosa por focar-se em um único personagem ao longo de quase todo o filme. Ágil e dinâmica, é um trabalho que brinca com as possibilidades e desejos de Aron, exibindo flashbacks e telas divididas.
A Rede Social | Kirk Baxter e Angus Wall
Elegante e rápida, a edição de A Rede Social preserva os extensos diálogos entre os personagens, ao fazer um belo uso de ação e reação. Mas o destaque é por, constantemente, apresentar flashbacks e flashfowards, que mostram a criação do Facebook ao mesmo tempo em que seu fundador é processado em 2 processos legais – característica do roteiro, que fica ainda melhor nas telas.
Cisne Negro | Andrew Weisblumg
A montagem aqui é usada relativamente pouco. Não entenda mal, o longa é eficaz em sua edição, mas o diretor preserva algo que eu gosto muito: planos-sequência, tomadas longas sem cortes. Quanto a edição, vale destacar a cena da balada ao efeito de ecstasy, que torna-se quase assustadora, além de conter frames de pouquíssimos segundos do Cisne Negro e outras “surpresas”.
O Discurso do Rei | Tariq Anwar
Muito comum, a montagem oferece alguns momentos de verdadeira maestria. Os melhores, aqueles em que várias cenas são intercaladas, como a sequência de treinamento de fala (o uso do sofá como mudança de cena é magnífico) que mescla-se com os primeiros discursos do protagonista.
O Vencedor | Pamela Martin
A montagem aqui é bem simples, mas as cenas de luta ganham destaque por serem editadas como um programa de TV, dando uma sensação de realismo e imersão à cena maior. A Academia adora esse tipo de trabalho – vide Rocky e Touro Indomável -, mas acho um bom trabalho e só.
Ficou de Fora: A Origem | Lee Smith
Impressionante como a edição de A Origem foi esquecida. Lee Smith teve trabalho ao juntar todas as linhas narrativas – que incluem 4 níveis de sonhos simultâneos – e dar-lhes ritmo, nunca tornando o longa cansativo. Talvez seja muito complexo para a Academia…
APOSTA: A Rede Social
QUEM PODE VIRAR O JOGO: O Discurso do Rei
A menos que seja um filme pornô, os atores precisam de roupas; que variam de época, tamanho e estilo, adequando-se à sua narrativa e ao personagem. Os indicados são:
Alice no País das Maravilhas | Colleen Atwood
Mesclando o universo fantasioso de Lewis Carrol com a visão maluca de Tim Burton, Atwood desenvolve figurinos espetaculares que, não só são lindos, mas também obedecem a uma estética específica, como por exemplo o vestido que Alice usa quando vai alternando seu tamanho.
Bravura Indômita | Mary Zophres
Aqui temos figurinos de velho oeste autênticos (vide a piada de De Volta para o Futuro 3) e caprichados. A maioria casacos escuros e pesados, mas também belos vestidos da época, um berrante uniforme Texas Ranger usado por Matt Damon e um estúpidamente divertido traje de urso. Um ótimo trabalho.
O Discurso do Rei | Jenny Beavan
Figurinos de realeza! Sempre conquistam a estatueta – merecidamente -, mas acho que esse ano a tradição muda. O guarda-roupa de O Discurso do Rei oferece vestuários de época autênticos e caprichados, com destaque às roupas de Helena Bonham Carter. O problema, é que Alice é um candidato mais forte e superior.
I Am Love | Antonella Cannarozzi
Bem contemporâneos, diga-se de passagem, o figurino de I Am Love é estiloso, mas não merecia a indicação. Dentre os exemplos que vi, não achei nada de espetacular ou acima da média. A Origem e A Rede Social ofereciam ternos mais bacanas…
The Tempest | Sandy Powell
A veterna Sandy Powell costura vestimentas bacanas nessa nova adaptação do conto de Shakespeare. São competentes, não vi grande coisa – a menos no principal traje de Helen Mirren, que é bem feito.
Ficou de Fora: Cisne Negro
A maioria dos vestimentos são contemporâneos, merecendo atenção aos belos trajes de balé usados por Nina ao longo da produção. Mais do que puro enfeite, o figurino também respeita a necessidade narrativa, ao apresentar a personagem de Lily apenas com roupas pretas, destacando sua personalidade sombria.
APOSTA: Alice no País das Maravilhas
QUEM PODE VIRAR O JOGO: O Discurso do Rei
A arte de enfeitar e disfarçar um artista, resultando em uma transformação do personagem, seja para envelhece-lo ou transformá-lo em um monstro. Os indicados são:
Caminho da Liberdade | Edouard F. Henriques, Greg Funk e Yolanda Toussieg
Não vi o filme, mas percebi maquiagens decentes aplicadas em alguns personagens. Ed Harris conseguiu uma barba convincente e as queimaduras de sol em Jim Sturgess o disfarçam completamente. Mas não é nada espetacular a ponto de levar a estatueta.
O Lobisomem | Rick Baker e Dave Elsey
O mestre das maquiagens ataca novamente! Rick Baker, especialista em filmes de monstros, empresta seu talento à composição da nova versão do Lobisomem. Perfeita, o trabalho é a melhor coisa do longa. Já ganhou. Se perder, é absurdo.
Minha Versão para o Amor | Adrien Morot
Certo, colocaram uma barba no Paul Giamatti. Uma barba (!) garantiu uma indicação ao Oscar… Brincadeiras a parte, como o filme ainda não estreou por aqui, fica a dúvida se a trama possui algum salto temporal, envelhecimento do protagonista, etc.
Ficou de Fora: Alice no País das Maravilhas
Realmente, achei que as bizarrices de Tim Burton seriam indicadas este ano. Johnny Depp ficou irreconhecível, e a maquiagem aplicada é relativamente simples.
APOSTA: O Lobisomem
QUEM PODE VIRAR O JOGO: Minha Versão do Amor
Dando vida ao que não existe, a equipe de efeitos visuais trabalha para criar personagens e ambientes digitais, buscando o realismo perfeito. Os indicados são:
Além da Vida
Não assisti o novo filme de Clint Eastwood, mas o barulho provocado pela cena do Tsunami chegou aos meus ouvidos e pude conferir alguns trechos dela no Youtube e gostei do resultado, bem orgânico. Mas não é por uma cena boa que se garante a estatueta…
Alice no País das Maravilhas
Alice é mais um Avatar; um mundo bizarro e fantasioso criado a partir de computadores, mas que funciona perfeitamente bem em cena. Alguns personagens digitais – como o Gato de Chenrise, da foto – ficaram excelentes, mas o cavaleiro vivido por Chrispin Glover é claramente reconhecível como efeito digital. A cabeça gigante de Bonham Carter ficou bacana também.
A Origem
Na minha opinião, o melhor efeito da categoria. Não só por serem visualmente perfeitos, mas por serem usados de maneira adequada no filme, contribuindo à narrativa e não aparecendo apenas para mostrar o tamanho do orçamento. Os efeitos são perfeitos, destacam-se o Limbo e a rua dobrada de Paris.
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
Não achei os efeitos visuais do sétimo Harry Potter grande coisa, mas reconheço o progresso na criação de criaturas digitais, como os elfos Dobby e Monstro. Os dois são o ponto alto no CG do filme, que às vezes soa um tanto mal feito, como na cena em que os dementadores aparecem.
Homem-de-Ferro 2
Continuando a mesma técnica do filme anterior, a armadura do herói-título é completamente feita por computação gráfica, mas dessa vez temos muito mais robôs, chicotes elétricos, entre outros. Não me entenda mal, são bons efeitos, no entanto é fácil encontrar defeitos e algumas criações não ficam perfeitas; ainda acho que a interação armadura-ator precisa melhorar.
Ficou de fora: Cisne Negro
Aplicados de maneira sutil e orgânica, os efeitos digitais de Cisne Negro complementam a trama ao criar imagens perturbadoras e oníricas sobre cisnes e a obsessão da protagonista. São pouco usados no longa, mas funcionam perfeitamente.
APOSTA: A Origem
QUEM PODE VIRAR O JOGO: Alice no País das Maravilhas
E a Parte II acaba aqui, mas aguardem que ainda tem mais! Amanhã publicarei a terceira parte, sobre os Sons e Músicas que concorrem. Até lá.
This entry was posted on 22 de fevereiro de 2011 at 16:39 and is filed under Especiais, Prêmios with tags 127 horas, a origem, a rede social, além da vida, alice no pais das maravilhas, andrew weisblumg, angus wall, antonella cannarozzi, aposta, armadura, atores, balada, bravura indômita, caminho da liberdade, cenários, cisne negro, colleen atwood, construções, cores, criação, danny cohen, design, design de produção, direção de arte, dobby, douglas a. mowat, efeitos visuais, escada de penrose, eve stewart, facebook, ficou de fora, figurino, flashbacks, fotografia, guy hendrix dyas, harry potter e as reliquias da morte, homem-de-ferro 2, i am love, ilha do medo, injustiças, jeff cronenweth, jenny beavan, jess gonchor, jon harris, judy farr, karen o'hara, kirk baxter, larry dias, lee smith, limbo, lutas de boxe, Maquiagem, mary zophres, matthew libatique, minha versão para o amor, mise em scène, monstro, montagem, nancy haigh, o discurso do rei, o lobisomem, o vencedor, paisagens, pamela martin, paradoxos, parte 1, rick baker, robert stromberg, roger deakins, sandy powell, sonhos, stephenie mcmillan, stuart craig, tariq anwar, técnica, Tecnologia, the tempest, tim burton, transformação, tsunami, velho oeste, wally pfister. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.
22 de fevereiro de 2011 às 16:49
muito legal sua abordagem!!
24 de fevereiro de 2011 às 22:40
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