| Relatos Selvagens | Crítica

4.0

RelatosSalvajes

Eu queria que tivéssemos anualmente um filme como Relatos Selvagens.Me remete bastante a Além da Imaginação, mas aqui o sobrenatural dá lugar a algo ainda mais perigoso: a própria natureza humana.

Optando pelo formato de antologia, Damián Szifrón dirige e escreve seis histórias distintas e que jamais se encontram, tendo em comum apenas a selvageria humana descontrolada como tema. É algo que já fica claro nos minutos iniciais, com a curta “Pasternak”, que se concentra em um grupo de pessoas num avião que descobrem estar ali por um sinistro motivo em comum – resultando em um desfecho diabolicamente divertido. Aliás, a tensão e o humor caminham de mãos dadas durante toda a projeção; uma aliança incomum, mas que funciona surpreendentemente bem.

“Las Ratas” nos apresenta a um diner solitário em uma noite chuvosa, onde duas garçonetes (Julieta Zylberberg e Rita Cortese) conspiram o assassinato de um cliente, que seria um mafioso. É simples, belíssima do ponto de vista plástico e direta ao ponto, ainda que seja anticlimática e careça de elementos mais surpreendentes que os próximos segmentos trariam.

“El Más Fuerte” talvez seja o melhor segmento do filme, trazendo um sujeito (Leonardo Sbaraglia) que fica preso em uma estrada deserta após o pneu de seu luxuoso novo carro furar. No melhor estilo Encurralado e o próprio Além da Imaginação,, ele começa a ser ameaçado sem motivo por um misterioso viajante, resultando em um duelo mortal entre os dois; cuja brutalidade só é superada pelo espanto do espectador ao notar como toda a situação se agravou a partir do nada.

Seguindo a premissa da bola de neve, “Bombita” traz o astro Ricardo Darín como um engenheiro especialista em bombas que enfrenta um inferno com a burocracia do departamento de trânsito da cidade. Como se a profissão já não fosse o bastante, seu personagem tem o temperamento explosivo, o que o coloca em diversas situações interessantes e em um desfecho ácido que deve provocar muitas discussões.

“La Propuesta” é o mais dramático da narrativa, trazendo um patriarca () que estuda como reagir publicamente após seu filho ter acidentalmente atropelado e matado uma mulher grávida. O texto de Szifrón é habilidoso ao explorar as decisões do protagonista, que usa do dinheiro e de suas conexões para tentar abafar o caso, e também agrada por resolver questões pivotais visualmente (como a abertura, que traz a placa de um carro suja de sangue).

Já “Hasta que la Muerte Nos Separe” é de longe o mais desastroso dos segmentos. A trama é ambientada num casamento, que se descontrola quando a noiva (Erica Rivas) descobre que seu marido foi infiel, transformando a festa harmoniosa em um festival de atrocidades que vai de brigas, acidentes e muito escândalo até um clímax duvidoso. Faz sentido que Szifrón termine o filme com a história que certamente é a mais grandiosa, mas pessoalmente acho que esta seguiu um caminho exagerado demais e que destoa da simplicidade satisfatória das demais.

Relatos Selvagens é uma ótima coleção de histórias cativantes, povoadas por figuras divertidas e controversas. É um convite ao lado negro do ser humano, e quem diria que tal tema poderia render tanto humor.

3 Respostas to “| Relatos Selvagens | Crítica”

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