Chris Pratt e seu parça (é) velociraptor
Quando eu era criança, Jurassic Park e seus dinossauros foram parte essencial de meu crescimento como cinéfilo. Lembro até hoje da empolgação em ver o T-Rex pela primeira vez ou minha imensa decepção quando fora barrado no cinema ao tentar ver Jurassic Park 3, em meus longínquos 5 anos de idade. Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros veio abruptamente e eu mal podia acreditar que realmente veríamos um retorno à Ilha Nublar e seus habitantes pré-históricos. A verdade? Assim como os personagens de Lost, não precisávamos ter voltado.
A trama se passa 22 anos após o primeiro filme, ignorando (ou não fazendo menção alguma) aos eventos de O Mundo Perdido e do segundo filme. Aqui, o sonho de John Hammond é realizado e o parque temático com dinossauros criados geneticamente está completamente funcional e atraindo milhares de visitantes. Buscando novas formas de garantir patrocínio e impressionar a clientela, o grupo cria o primeiro dinossauro híbrido: o Idominus Rex. Como não deve ser nenhuma surpresa, o caos reina quando a criatura revela-se mais inteligente do que o esperado.
Ainda que com algumas mudanças significantes, o roteiro assinado por Rick Jaffa, Amanda Silver (dupla responsável pelo ótimo reboot de Planeta dos Macacos), Derek Connolly e o diretor Colin Trevorrow – repararam em quantas pessoas diferentes aqui? Então – é uma repetição de toda a fórmula do primeiro filme. Desde o maravilhamento inicial, passando pelas crianças em perigo até o status icônico garantido ao T-Rex, não é difícil encontrar referências gritantes, perdidas em meio às diversas subtramas que o roteiro tenta comportar, resultando em uma misturânea que acaba desencontrada e sem um foco específico – militarismo, natureza vs homem, guerra dos sexos (brega, brega), aproximamento entre irmãos… Uma enxurrada de elementos possíveis de se sentir na arrastada projeção de 124 minutos.
E Colin Trevorrow (do eficiente indie Sem Segurança Nenhuma) passa longe de ser um Steven Spielberg. As sequências de tensão pecam pela repetição; pelo menos três vezes temos uma situação em que algum personagem fica imóvel e escondido enquanto algum dinossauro o procura, e a ação é pouco imaginativa (o elemento da girosfera é uma exceção) e danificada por um excesso de CGI notável. Por incrível que pareça, a combinação de animatronics de Stan Winston com efeitos digitais no filme de 1993 surge muito mais verossímel do que as criaturas vistas em Jurassic World. E outra: não sei qual dos 5 roteiristas achou que domesticar e “fofotizar” velociraptors era uma boa ideia, muito menos transformá-los nos bichinhos de estimação de Chris Pratt, além de uma inesperada reviravolta no finalzinho que remete bastante à proposta do último Godzilla.
De dinossauros novos, o aquático Mosassauro impressiona pelo tamanho e sua relevância divertida para o clímax, enquanto o mutante Indominus Rex parece mais uma versão genérica do T-Rex (até o Espinossauro do terceiro filme tinha mais “carisma”), ainda que seu modus operandi seja interessante. Já o lado humano fica preso à estereótipos forçados, que incluem o caçador machão/afetivo de Chris Pratt (que o ator consegue tornar interessante, graças à boa performance) a executiva fria e altamente sexualizada de Bryce Dallas Howard e o militar inescrupuloso de Vincent D’Onofrio.
Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros é uma triste decepção que se perde num roteiro ruim e na ausência do encantamento que marcou o original de Steven Spielberg, destacando-se como o pior filme da série.
Digo, como reagir quando um dos próprios personagens quebra a quarta parede em uma piadinha ao dizer como “o primeiro parque era irado de verdade” e que “não precisava de híbridos genéticos”?