Arquivo para cenas de ação

| 007 Contra Spectre | Crítica

Posted in Ação, Aventura, Cinema, Críticas de 2015 with tags , , , , , , , , , , , , , , , on 4 de novembro de 2015 by Lucas Nascimento

3.5

SPECTRE
Antes tarde do que nunca: a primeira neve do 007 de Daniel Craig

Não é pra qualquer franquia a habilidade de se manter por 53 anos, 24 filmes e 6 atores. É surpreendente como um personagem tão explorado quanto 007 conseguiu ganhar diversas reinvenções ao logo desse tempo, em especial aquelas vistas com Daniel Craig em Cassino Royale e Operação Skyfall, que atualizaram o estilo de personagem para o século XXI ao mesmo tempo em que preservaram suas raízes. Marcando a quarta aparição de Craig como Bond, 007 Contra Spectre reúne – quese – toda a equipe de volta para tentar superar o sucesso do antecessor, e não é surpresa que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

Na trama, James Bond procura mais pistas sobre seu passado após uma missão explosiva na cidade do México. A investigação acaba levando-o até Roma, onde descobre a existência de uma nebulosa organização criminosa conhecida como Spectre, chefiada pelo misterioso Franz Oberhauser (Christoph Waltz) e que parece estar por trás de diversas fatalidades na vida do espião.

Tudo bem, não é tarefa fácil superar Skyfall. Foi um dos filmes mais bem avaliados da série, o mais rentável da história do Reino Unido, vencedor BAFTA e dois Oscars e também um longa certeiro e nostálgico para os 50 anos do personagem. Sam Mendes retorna à cadeira de diretor, assim como os roteiristas John Logan, Robert Wade e Neil Purvis, que – não surpreendentemente – acabam caindo na armadilha de tornar Spectre parecido demais com Skyfall. Novamente temos Bond agindo em uma missão pessoal, novamente o MI6 enfrenta pressão do governo para justificar sua existência num mundo moderno (curiosamente, mesma situação que afetou a IMF em Missão: Impossível – Nação Secreta) e por aí vai. A repetição também se manifesta nos diálogos sem muita profundidade e mais interessados em entregar one liners falhos e sem imaginação (“Fiquei sem balas”, dado o contexto de uma cena específica, é broxante), ainda que algumas raras exceções funcionem: o humor pontual é ótimo, como quando Bond tem sua queda de um prédio interrompida por um sofá ou sua sincera reação ao novo ferimento de um oponente.

Mais do que qualquer outro filme da série, Spectre preocupa-se em conectar seus filmes, indo além das casuais referências nostálgicas (Sam Mendes claramente adora Viva e Deixe Morrer). Os eventos e personagens de CassinoQuantum of SolaceSkyfall são retomados fortemente aqui, criando uma relação megalomaníaca com o Oberhauser de Christoph Waltz, que oferece uma performance vilanesca típica de Hans Landa e promete agradar os fãs mais saudosistas com sua aguardada revelação. Aliás, é justamente essa revelação que torna o antagonista tão especial, já que suas ações não são realmente tão memoráveis – com exceção de uma arrepiante cena de tortura e a reunião dos membros da Spectre em uma sala escura que remete imediatamente a De Olhos Bem Fechados.

Mendes mantém uma condução eficiente, e já começa a projeção com um ótimo plano sequência pela vasta marcha do Dia dos Mortos na capital mexicana. Temos uma ótima sequência envolvendo carros e um avião na neve e uma brutal pancadaria no interior de um trem (remetendo a Moscou contra 007O Espião que me Amava, graças também à postura forte de Dave Bautista como o capanga Sr. Hinx) O diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema empresta seu grão sujo para ajudar o diretor, não alcançando um trabalho surreal como o de Roger Deakins em Skyfall, mas capturando belas imagens com paisagens na Áustria e a já mencionada reunião da Spectre, em uma tela expressionista ambientada em Roma. Só é uma pena que não tenhamos cenas muito inventivas, começando por uma perseguição de carro que não empolga – provavelmente por entrecortá-la com exposição de diálogos enquanto Bond conversa com Moneypenny (Naomie Harris, novamente) – e um clímax fraco que só se salva pela conexão criada com os longas anteriores, envisionando um cenário que realmente mergulha no inconsciente de Bond.

Além de Oberhauser, temos Léa Seydoux excelente como a psicóloga Madeleine Swann. Não chega a ser memorável como uma Vesper Lynd, mas é uma personagem forte e capaz de bater pra igual com Bond, gerando uma boa química com o sempre competente Daniel Craig, que ainda se mostra um ótimo Bond mesmo sem muito de novo a oferecer aqui (não levando em consideração as declarações pouco elegantes do ator). Ben Whishaw novamente atesta que a decisão de rejunescer Q foi genial e Ralph Fiennes surge durão como M, especialmente quando contracena com o cínico Andrew Scott, na pele de um burocrata calculista.

Em seus aspectos técnicos, é primoroso como a maioria dos filmes da série. Além da já comentada fotografia de Hoytema, a montagem de Lee Smith adiciona mais ações em paralelo (afinal, o cara é o colaborador de Christopher Nolan), em especial no clímax que envolve participação de toda a equipe, e Thomas Newman aproveita muito de seus temas criados para Skyfall, inovando apenas na influência musical do México e Roma; além de um mistério mais forte em torno da figura antagonista. Por fim, a sequência de créditos com “Writing’s on the Wall”, de Sam Smith, é provocante e dinâmica, sendo muito eficiente em mesclar a imagem de polvos com as tradicionais silhuetas femininas da saga.

007 Contra Spectre é mais uma boa adição à era de Daniel Craig como James Bond, ainda que não consiga subir ao mesmo nível de seu excelente antecessor. Traz bom entrenimento e nostalgia para os fãs de longa data, mesmo que seja impossível não se sentir um pouco decepcionado.

| Quarteto Fantástico | Crítica

Posted in Adaptações de Quadrinhos, Aventura, Cinema, Críticas de 2015, Ficção Científica with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on 5 de agosto de 2015 by Lucas Nascimento

2.5

fant4stic
Jamie Bell, Michael B. Jordan, Miles Teller e Kate Mara são as novas caras (ou costas) do Quarteto

Há uma década atrás, a Fox lançava sua primeira tentativa blockbuster (o de Roger Corman é trash demais) de lançar o Quarteto Fantástico nos cinemas. Ainda que de qualidade bem duvidosa, os dois filmes dirigidos por Tim Story conseguiam divertir com seu humor pastelão e trama macarrônica num adorável guilty pleasure, mas foram incapazes de sustentar uma franquia duradoura. Agora, seguindo uma linha mais dark e realista, o grupo da Marvel tenta se reinventar pelas mãos de Josh Trank.

A trama faz algumas mudanças na história original, trazendo os personagens da fase adulta para adolescente. Reed Richards (Miles Teller) trabalha com o amigo Ben Grimm (Jamie Bell) numa teoria para tornar possível o teletransporte e viagens interdimensionais. Com a ajuda de uma equipe formada pelos irmãos Sue (Kate Mara) e Johnny Storm (Michael B. Jordan) e o desconfiado Victor Von Doom (Toby Kebbell), o grupo consegue acesso a outra dimensão, onde ganham poderes bizarros que mudam suas vidas.

Depois de Josh Trank ter dirigido o ótimo Poder Sem Limites e um elenco realmente fantástico ter sido escolhido, é difícil de acreditar que este novo Quarteto consiga ser tão burocrático. O roteiro de Simon Kinberg, Jeremy Slater e o do próprio Trank empolga por se debruçar em uma abordagem mais científica do assunto, tanto que sua eficiente primeira metade funciona bem como uma ficção científica e até impressiona por algumas decisões visuais: o primeiro vislumbre dos poderes é quase amedrontador, com a imagem de um Johnny aparentemente morto sendo engolido por chamas ou o corpo de Reed sendo esticado à força em uma mesa cirúrgica. Porém, são apenas bons momentos encontrados numa narrativa sem vida, que pouco empolga e arrisca.

As relações entre cada membro do Quarteto falham ao provocar autenticidade, como se não houvesse química entre o elenco. Miles Teller se sai bem porque seu personagem tem o maior destaque, mas sua amizade com Jamie Bell é forçadíssima (aliás, o ator surge com uma imutável expressão cansada durante toda a projeção, e seu Coisa digital não é dos mais expressivos) e o pseudo romance com Kate Mara, nada convincente. Poxa, nem o carismático Michael B. Jordan tem a chance de brilhar aqui, já que seu Johnny é constantemente jogado em segundo plano, e me ficou a impressão de que o ator realmente se esforçava – mas parecia forçado a ficar no piloto automático. E mesmo que o Doom de Toby Kebbell seja muitíssimo bem introduzido e explorado, sua transição para vilão megalomaníaco é risível, e um dos grandes fatores que expõem os problemas de bastidores que assombraram seu pré-lançamento.

Se levar em conta o que vemos em tela, certamente a Fox teve problemas para concluir o filme, e não ficaria surpreso se os rumores de refilmagens fossem reais. Trank começa a narrativa muito bem, mas raramente vemos ali o mesmo cara que impressionou com a crueza e espetáculo em Poder sem Limites, trazendo cenas de ação tediosas (o clímax com o Dr. Destino é um dos mais apressados e sem energia que já vi na vida) e até uma montagem problemática que parece unir cenas desconexas: um tempo maior de silêncio entre um momento tenso para outro seria necessário aqui e ali, e é um claro sinal de problemas quando a trama salta 1 ano num momento crítico, ignorando desenvolvimento de personagens e a relação destes com seus poderes. A unica exceção é quando Dr. Destino acorda pela primeira vez, e seu violento e sangrento ataque ajuda a acordar o espectador.

Nos quesitos técnicos, é competente, ainda que nada muito espetacular. É interessante observar como as chamas digitais cobrem com detalhes o uniforme do Tocha Humana, assim como o detalhe de preencher o traje do Sr. Fantástico de argolas e do Coisa surgir numa espécie de casulo de pedra. Aliás, as justificativas para cada um dos poderes são verossímeis, como as rochas que entram na cápsula de Ben ou o fogo que invade a de Johnny durante o teletransporte de ambos, e até o visual do próprio Destino; quase como um A Mosca mais controlado.

Mesmo que surja com nomes talentosos e boas intenções, o novo Quarteto Fantástico é um filme esquecível e que infelizmente não consegue fazer muito além do básico, se perdendo numa trama sem graça com personagens pouco carismáticos.

E aí Fox, quarta vez é a da sorte?

Obs: Esse filme não é em 3D. Glória, pelo menos isso.

| Pixels | Crítica

Posted in Aventura, Cinema, Comédia, Críticas de 2015 with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on 30 de julho de 2015 by Lucas Nascimento

1.5

pixels
Os “mini ghosts” encaram a ameaça de Pac-Man

Já faz muito tempo desde que, conscientemente, embarco num filme que traz em seu pôster o nome de Adam Sandler. Confesso que já me diverti bastante com as obras do ator quando criança, mas de uns tempos pra cá, Sandler foi transformando-se num ser insuportável e sem graça, assumindo que só trabalhava em alguns filmes “para viajar”, tendo até a própria Sony Pictures envergonhada de financiar seus projetos – como revelado no traumático leak do estúdio ano passado. Portanto, quando Adam Sandler é o fator mais suportável da aventura Pixels, sabemos que algo bem ruim nos aguarda.

A trama até parte de uma premissa interessante, quando uma raça alienígena misteriosa utiliza de figuras icônicas de videogames dos anos 80 para atacar a Terra. Em uma ação inesperada, o presidente dos EUA (Kevin James e não, isso não é uma piada mesmo) contata seu antigo amigo de infância (Adam Sandler) para liderar uma equipe especializada no assunto e salvar o planeta.

Parece muito o tipo de filme que sairia no final dos anos 80 ou começo dos 90, e confesso que esperava algo mais divertido de tal premissa. O roteiro de Tim Herlihy e Timothy Dowling adapta um curta-metragem homônimo de Patrick Jean, no qual Nova York era atacada por monstros em 8-bit. Infelizmente, o projeto caiu nas mãos da Happy Madison de Adam Sandler, que leva a história para uma direção infantilódie e povoada por piadas sem graça, machistas e apelativas: tudo bem se alguém acha engraçado o tipo de humor promovido por caras irritantes como Josh Gad e Kevin James – que basicamente só gritam como garotinhas e apostam em escatologias -, mas simplesmente não funciona para mim. Sandler não chega a perturbar, já que seu tipo é o mesmo em praticamente todas as suas produções e as piadas de seu personagem limitam-se a fazer referências pop (“Calado aí, Zack Efron”). Ha.

Pra piorar, enquanto seus personagens e situações são completamente ridículos (isso porque nem mencionei a pavorosa subtrama amorosa que envolve Michelle Monaghan), o longa inexplicavelmente tenta se levar a sério em seus momentos mais… Er, dramáticos? Ver Sandler perseguindo o Pac-Man num carro enquanto proclama para si mesmo num tom preocupante que “se falhar aqui, o mundo todo acaba” (eu juro que esperava um punch line) ou assumindo uma risível pose heróica num combate com o Donkey Kong inadvertivelmente transforma-se na piada mais inesperada de toda a produção. Porém, todas as subtramas que envolvem a relação de Sandler com o filho de Monaghan, a “discussão ética” sobre trapacear ou não e até discursos de amor verdadeiro, que envolvem a personagem Lady Lisa (é uma coisa tão idiota que senti voltade de xingar o roteirista em plena sessão), são igualmente hilários.

O diretor Chris Columbus até tenta trazer um pouco de ânimo com as cenas de ação, que chegam a ter certo dinamismo visual, com os planos mais unidimensionais durante o embate com Kong sendo eficientes na proposta de emular o estilo do videogame, mas não convencem quando temos protagonistas tão imbecis. Confesse, a única hora que é possível sentir algum ânimo é quando “We Will Rock You”, do Queen, começa a tocar.

Pixels começa com um conceito divertido, mas logo revela-se bobo demais para de fato funcionar, além de contar com um humor nada elegante de Adam Sandler e companhia.

Muita ação no spot de TV de 007 CONTRA SPECTRE

Posted in Trailers with tags , , , , , , on 10 de junho de 2015 by Lucas Nascimento

spectre_07

Publicar spots de TV e vídeos curtos não é bem o que curto fazer aqui, mas a primeira chamada televisiva de 007 Contra Spectre enfim mostrou alguma coisa das cenas de ação do filme. Entre flashes rápidos vemos perseguições de carro, luta na neve e até um avião no meio do espetáculo. Confira:

007 Contra Spectre estreia em 5 de Novembro.

Confira o primeiro trailer de CAÇADORES DE EMOÇÃO: ALÉM DO LIMITE

Posted in Trailers with tags , , , , , , on 26 de maio de 2015 by Lucas Nascimento

É isso mesmo. Temos um remake de Caçadores de Emoção, épico de ação que marcou a década de 90, se aproximando ao horizonte.

Olha, não coloco fé na produção, que traz um elenco pouco promissor e um diretor novato, mas confesso estar impressionado pelas cenas de ação no primeiro trailer – que parecem trocar o surf por perseguições de carro e skydivings ainda mais perigosos.

Confira:

Caçadores de Emoção: Além do Limite estreia no Brasil em Janeiro de 2016.

| Mad Max: Estrada da Fúria | Crítica

Posted in Ação, Cinema, Críticas de 2015 with tags , , , , , , , , , , , , , , on 14 de maio de 2015 by Lucas Nascimento

5.0

FURY
Tom Hardy é Max Rockatansky: aí vem encrenca

Devo confessar que nunca fui um grande conhecedor de Mad Max, a trilogia de ação pós-apocalíptica do australiano George Miller. Aliás, foi só quando o sensacional primeiro trailer de Mad Max: Estrada da Fúria foi lançado que o Guerreiro da Estrada entrou no meu radar. E ainda bem que entrou. Odiaria ter perdido o espetáculo de ação que é sua nova aventura.

Sem nenhuma menção aos três longas anteriores, a trama começa num mundo devastado por guerras por água e petróleo, e uma subsequente destruição nuclear. Ali, o solitário Max Rockatansky (Tom Hardy) é capturado por guerreiros de uma sociedade dominada pelo tirano Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne, que interpretou Toecutter no primeiro filme). Quando uma de suas generais, a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), se rebela e foge para o deserto com suas escravas, Joe coloca todo seu comboio atrás da rebelde, e Max acaba jogado no meio do conflito.

Primeiramente, não se surpreendem se a premissa parecer rasa ou simples demais. A franquia nunca foi conhecida por tramas mirabolantes ou grandes trabalhos de desenvolvimento de personagens, mas sim pela mitologia rica e vibrante com a qual sustentava um fiapo de história bem linear: o primeiro era uma simples história de vingança e o segundo não passava de uma grande missão de defesa, enquanto Além da Cúpula do Trovão, mesmo sendo um pouco mais elaborado, ainda era uma básica história de fuga. O próprio George Miller definiu Estrada da Fúria como “uma perseguição de carros de 2 horas”, e é exatamente isso o que vemos, em sua forma mais grandiloquente e satisfatória.

Com 70 anos de idade, Miller demonstra a energia de um adolescente (tal como Scorsese com O Lobo de Wall Street, comprovando que os velhinhos tão com tudo) no comando das melhores cenas de ação que você verá este ano, incluindo violentas batidas de automóveis customizados da forma mais abstrata e assassina possível, corridas alucinantes na barriga de uma surreal tempestade de areia e lutas insanas em caminhões em movimento, motos e até bastões acrobáticos. Tudo isso com uma direção compreensível (nada de câmera trêmula aqui) e dinâmica, favorecida pela montagem frenética de Jason Ballantine e Margaret Sixel e a trilha sonora fritada de Junkie XL. A fotografia de John Seale também ajuda a construir um visual lindíssimo, com uma paleta de cores dominada pelo laranja do deserto nas cenas diurnas, e por um azul fortíssimo nas noturnas.

FURIOSA
Charlize Theron é Furiosa: a heroína de ação definitiva de nossos tempos

Mas mesmo diante de um espetáculo robusto e uma trama rasa, Miller e os roteiristas Brendan McCarthy e Nick Lathouris conseguem circular temas pertinentes e criar personagens fortes dentro desse rico universo. A começar pela crise de água, que nunca pareceu tão atual (nos anos 70, era o petróleo) passando pela redenção (tema dos três personagens principais, incluindo o Nux de Nicholas Hoult) e o feminismo, que Miller acerta em cheio na forma da própria fuga das escravas (“Não somos objetos”, diz uma das pichações na parede) e da Furiosa de Charlize Theron. Está aí um exemplo de mulher forte, que apanha e solta porrada na mesma medida que o protagonista; remetendo diretamente à Tenente Ripley da Antologia Alien, senão mais forte ainda. Theron está excelente, não só pela dureza de Furiosa, mas também por seus raros momentos de fraqueza e desabafo emocional (o “grito mudo” no deserto é deslumbrante).

Por fim, mas não menos importante, Tom Hardy revela-se um sucessor digno para Mel Gibson na pele de Max. Tudo bem que o ator não tem muitos diálogos ou expressões aqui, transformando Max num guerreiro enigmático e perturbado, e também divertindo com algumas expressões rabugentas (suas reações ao ser amarrado na ponta de um carro são ótimas). E claro, temos o vilão Immortan Joe que já nasceu ícone: o design de sua máscara é realmente amendrontador, e este comprova-se como um dos antagonistas mais memoráveis que tivemos nos últimos tempos, sendo grotesco na medida certa. Aliás, todo o departamento de direção de arte e design de produção merecem aplausos pelo trabalho esplêndido com veículos, figurinos, maquiagem e objetos, todos com detalhes específicos brilhantes – eu mencionei que há uma guitarra-lança-chamas?

Mad Max: Estrada da Fúria é uma sinfonia de ação que reúne o que o gênero tem de melhor, provocando uma experiência vibrante em um universo rico e completamente surtado. O marketing não estava errado, 2015 realmente pertence aos loucos.

Leia esta crítica em inglês.

| Noite Sem Fim | Crítica

Posted in Ação, Cinema, Críticas de 2015 with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 1 de maio de 2015 by Lucas Nascimento

4.0

RunAllLight
Liam Neeson e Joel Kinnaman

Liam Neeson chutando bundas meio que se tornou um subgênero do atual gênero de ação. Tudo bem que os excessos da franquia Busca Implacável enfim esgotaram, mas o ator tem feito experimentos muito interessantes com obras como A Perseguição, Sem Escalas e, particularmente, o eficiente suspense Caçada Mortal. Sua nova investida vem com Noite Sem Fim, um thriller de ação que funciona graças a sua inesperada carga dramática.

A trama nos apresenta ao matador de aluguel Jimmy Conlon (Liam Neeson), que tenta afogar com o álcool as lembranças torturantes das vítimas que executou a mando do patrão e amigo Shawn Maguire (Ed Harris). Quando os caminhos de seus filhos, Danny (Boyd Holbrook) e Michael (Joel Kinnaman) se cruzam, Jimmy é obrigado a matar o filho de seu patrão, o que acaba colocando ele e Michael na mira de assassinos.

É apenas mais uma variação da premissa de perseguição, mas o roteiro de Brad Ingelsby (Tudo por Justiça) consegue realizar muito com esse ponto partida. As relações de pai e filho entre Jimmy e Mike são construídas de forma eficiente e realista, sendo possível até ignorar o velho clichê do pai ausente e desagrádavel – mérito também das performances do sempre à vontade Neeson e do competente Kinnaman. Porém, o antagonismo entre o protagonista e Shawn é um dos pontos altos, já que trata-se de dois sujeitos próximos que são muito amigos, ocasionando em momentos como um jantar quase amigável (a tensão é um terceiro convidado muito presente) entre os dois em plena metade da projeção, e o fato de o próprio Jimmy confessar para o amigo que assassinou seu filho; quando poderia muito bem ter fugido. Em certos pontos, principalmente no intenso clímax, a relação dos dois traz à mente o antagonismo entre Robert De Niro e Al Pacino em Fogo contra Fogo, ainda que aqui seja um caso mais próximo da amizade, enquanto o épico de Michael Mann opta por um estudo mais complexo: a dependência mútua entre mocinho e bandido.

Ter um sustento dramático assim já é um grande feito, mas a grande maioria realmente quer saber da ação. Bem, Jaume Collet-Serra nos engana com duas cenas de ação sofríveis durante o primeiro ato, que envolvem uma perseguição de carro confusa e uma briga que peca em execução e montagem. Porém, no memorável momento em que o assassino vivido por Common invade a tela, dominado por uma luz vermelha nada sutil que nos indica o quão sanguinário é a figura, a pancadaria se beneficia exponencialmente, já que Collet-Serra claramente entende as regras quanto à distribuição de jogadores (há também a pontual presença de um detetive vivido por Vincent D’Onofrio) no gênero: Price é elaborado e misterioso, utilizando até mesmo uma absurda mira laser no óculos – e acho divertido como Serra o mostra colocando um colete à prova de balas antes da missão, a fim de humanizá-lo. Perseguições numa floresta coberta de névoa e uma condomínio que lentamente vai pegando fogo são excelentes, onde a condução de Serra é inspirada e a trilha sonora de Junkie XL garante dinamismo.

Outro fator determinante aqui é a atmosfera. O fato de Noite Sem Fim se passar inteiramente numa noite confere mais urgência à trama, e a fotografia de Martin Ruhe é eficaz ao preservar as sombras de Nova York e auxiliar o diretor a criar travellings digitais que surgem como uma mistura do trabalho de Neil Burger em Sem Limites e David Fincher em Quarto do Pânico, mas que eventualmente alcança uma identidade própria. Estilo.

Ainda que seja permeado de clichês, Noite Sem Fim surpreende por mostrar-se um filme de ação com preocupação incomum com seus personagens e suas diferentes relações, promovendo muito estilo, ação e um excelente ritmo. Que maravilha encontrar um longa de gênero tão exemplar.

Obs: Um ator bem conhecido tem uma participação surpresa no longa. Fiquem ligados.

| Busca Implacável 3 | Crítica

Posted in Ação, Críticas de 2015, Home Video with tags , , , , , , , , , , , , , , on 18 de abril de 2015 by Lucas Nascimento

2.0

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Liam Neeson é Bryan Mills

“Nem sei quantas vezes já disse que sinto muito”, desabafa o herói Bryan Mills (Liam Neeson) para sua filha Kim (Maggie Grace), antes de partir para mais uma cruzada desenfreada contra bandidões gringos genéricos. Confesso que ri, já que a frase inadvertidamente satiriza o descontrole que o apenas eficiente Busca Implacável gerou, expandindo loucamente seu conceito simplista.

A trama começa quando o agente Bryan Mills é incriminado e acusado de assassinar sua ex-esposa, Lenore (Famke Janssen). O marido desta, Stuart St. John (Dougray Scott) então coloca o policial Franck Dotzler (Forest Whitaker) para caçar o acusado. Enquanto isso, Mills corre contra o tempo para descobrir quem é o responsável pela armação.

Imagino que a ideia para o roteiro de Busca Implacável 3 tenha sido enquanto Luc Besson e Robert Mark Kamen tomavam umas durante uma exibição de O Fugitivo na televisão, já que a premissa deste filme é descaradamente idêntica à daquele protagonizado por Harrison Ford. A diferença é que pouco faz sentido aqui, desde as reviravoltas absurdas até a gritante obviedade quanto à identidade do antagonista (olha, dá pra sacar em 10 minutos de filme sem dificuldade alguma), que revela a intenção dos realizadores em criar uma plot que envolva toda a família – se no primeiro Mills era um vingador solitário, aqui é um programa dominical para Mills e seus amigos.

Pior: se a trama é indiferente, e uma mera desculpa para que possamos  ver Liam Neeson quebrando tudo e protagonizando cenas de ação, que estas sequências sejam, no mínimo, estimulantes. Olivier Megaton (responsável também pelo fraco segundo filme) revela-se um mestre na arte de cenas de ação incompreensível, adotando uma câmera incessante e retardada (alguém consegue decupar a perseguição de carro na rodovia e me explicar passo a passo o que diabos acontece ali?), enquanto os montadores Audrey Simonaud e Nicolas Trembasiewicz merecem um prêmio por serem incapazes de manter um plano com mais de 10 segundos, exagerando nos cortes rápidos, mesmo que seja uma simples conversa entre dois personagens imóveis.

Mas ainda entretém ver a intensidade de Liam Neeson durante a correria e a pancadaria. Tudo bem que soa cômico e bem menos impactante ver um herói de ação gritando “você matou minha ex-esposa!”, mas o ator consegue render bons momentos com Maggie Grace, onde Mills libera seu lado mais suave. Diverte também ver como a franquia percebeu a capacidade de brincar com elementos “iconizados” no primeiro filme, como quando Mills ameaça: “Quando você sair, eu vou te encontrar… E nós sabemos o que eu vou fazer” ou a ironia de trazê-lo terminando uma ligação de telefone com “Boa sorte”, tal como o sequestrador no filme de 2008.

Busca Implacável 3 fracassa como espetáculo de ação e também na tentativa de elaborar uma trama mais esperta do que poderia ser, salvando-se apenas a presença de Liam Neeson e um ou dois bons momentos. Já é hora de aposentar Bryan Mills.

| Velozes & Furiosos 7 | Crítica

Posted in Ação, Aventura, Cinema, Críticas de 2015 with tags , , , , , , , , , , , on 4 de abril de 2015 by Lucas Nascimento

3.0

Furious7
One last ride: A despedida de Paul Walker

A reinvenção da franquia Velozes e Furiosos é uma das surpresas mas inesperadas do cinema hollywoodiano. São filmes longíssimos de serem perfeitos, mas que parecem ter finalmente entendido o propósito de sua existência: o over the top, os excessos durante as cenas de ação que enloqueceriam Isaac Newton e o humor canastrão que impede que qualquer coisa se leve a sério. Em sua sétima investida, a franquia parece mais surtada do que nunca, ainda que isso afaste alguns espectadores. Eu, por exemplo.

A trama começa logo depois do filme anterior, com Deckard Shaw (Jason Statham) surgindo para vingar o ataque a seu moribundo irmão, Owen (Luke Evans), tendo a equipe de Dom Toretto (Vin Diesel) como alvo principal. Paralelo a essa ameaça, Dom é contratado por uma misteriosa corporação, representada pelo Sr. Ninguém (Kurt Russell) para recuperar um poderoso artefato digital capaz de rastrear cidadãos em qualquer posição global.

São duas linhas narrativas que não parecem ter muito em comum, e o roteiro de Chris Morgan não faz a menor questão de construir uma relação lógica entre estas (o vilão de Statham brota magicamente quando a história necessita, mesmo que o salto geográfico seja de Los Angeles para Abu Dabhi). Mas tudo bem, não cobro lógica ao ver um filme de Velozes & Furiosos, já que qualquer linha de diálogo ou dispositivo narrativo é uma mera desculpa para termos carros tunados sendo lançados de aviões ou o Dwayne Johnson arrebentando um gesso com seus braços enormes.

O malaio James Wan (de Invocação do Mal) assume a função de Justin Lin e mostra-se eficaz no comando de diversas cenas de ação, ainda que eu o prefira no terror. Traz movimentos inventivos de câmera, especialmente nos combates de corpo a corpo (a luta entre Michelle Rodriguez e a lutadora de MMA Ronda Rousey é memorável) e em experimentos de estilo – como o excelente plano sequência que introduz o personagem de Statham -, porém os excessos podem tornar-se maçantes: não existe nenhum risco de perigo real, Vin Diesel não derruba uma gota de sangue mesmo durante capotamentos, batidas fatais ou porradas com chaves inglesas. O clímax é uma mistura louca de Exterminador do Futuro, Vingadores e Senhor dos Anéis, colocando até mesmo um drone na jogada. Muita diversão (as frases de efeito são impagáveis, e Dwayne Johnson é O Cara), mas pessoalmente encontrei-me entediado em certo ponto. Entretém, mas a artificialidade pesa.

E mesmo que o filme falhe vergonhosamente quando tenta oferecer um lado emocional à relação de Dom e Letty, é justamente esse lado que fornece aquela que é inegavelmente sua grande qualidade: a homenagem a Paul Walker. Como bem sabem, o ator faleceu tragicamente num acidente de carro no final de 2013, o que levou o estúdio a utilizar efeitos visuais e dublês corporais para finalizar as cenas com seu Brian O’Conner. É um efeito imperfeito que causa estranheza em alguns momentos, mas que podemos ignorar durante a linda cena em que o filme quebra sua 4ª Parede para homenagear o ator em uma sequência quase surreal, que certamente vai arrancar algumas lágrimas dos fãs mais fervorosos.

Velozes & Furiosos 7 é exagerado e completamente insano, podendo perder ou ganhar o espectador com tal recurso. Não é o melhor, nem o mais divertido filme da franquia, mas ganha créditos pela belíssima homenagem que presta à Paul Walker.

Obs: Se possível, evite o péssimo 3D convertido.

Leia esta crítica em inglês.

| Kingsman: Serviço Secreto | Crítica

Posted in Ação, Adaptações de Quadrinhos, Aventura, Críticas de 2015 with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on 5 de março de 2015 by Lucas Nascimento

4.5

KingsmanTheSecretService
Colin Firth e o novato Taron Egerton

“Acho que ficaram sérios demais pro meu gosto”, diz agente secreto Harry Hart quando o megalomaníaco Richmond Valentine pergunta sua opinião a respeito de longas de espionagem. É um fato que Hollywood tenta seguir uma linha mais realista e “Nolesca” para algumas de suas produções, e eu pessoalmente  gosto muito do experimento e alguns dos resultados: Cassino Royale, por exemplo, é meu filme preferido de 007. Mas quando Kingsman: Serviço Secreto, uma obra assumidamente satírica e exagerada, nos clama para mergulhar na nostalgia do over the top e do cartunesco, é impossível resistir.

A trama marca mais uma adaptação dos quadrinhos de Mark Millar e Dave Gibbons para as telas, concentrando-se numa agência britânica de espionagem, a Kingsman. Quando um dos agentes é assassinado, Harry Hart (Colin Firth) fica incumbido de encontrar um substituto, e o vê na forma do delinquente Eggsy Unwin (Taron Egerton), um jovem preso por delitos em Londres. Enquanto Eggsy tenta sobreviver ao rigoroso processo de seleção da agência, Hart investiga o milionário de internet Richmond Valentine (Samuel L. Jackson), que teria um plano para aniquilar a raça humana.

Meu grande medo com Kingsman era que filmes de “espiões teen” nunca funcionam e O Agente Teen e o pavoroso Alex Rider contra o Tempo estão aí para comprovar. Mas o filme de Matthew Vaughn (em alta depois dos ótimos Kick-Ass: Quebrando TudoX-Men: Primeira Classe) funciona justamente por ser uma obra fortemente metalinguística e abraçar os exageros que marcaram a era de Roger Moore como James Bond nos anos 70 – gadgets malucos, guarda-chuvas metralhadoras e até pernas de lâminas para um vilã russa. O culto ao ícone do espião, aqui respeitando a elegância dos ternos impecáveis – não por acaso, a sede da Kingsman fica sob uma alfaiataria -, os bons modos (Colin Firth tomando uma chope depois de arrebentar uma gangue num pub é o mais alto nível de classe) e o obrigatório sotaque britânico, tanto com Firth como na presença obrigatória de Michael Caine.

E por falar em sotaque, vamos comentar a brilhante composição que Samuel L. Jackson oferece ao vilão Valentine. Do visual totalmente swag (com direito a boné de couro) até sua ousada decisão de pronunciar todas as suas falas com a língua presa, Valentine é um dos antagonistas mais fora do comum dos últimos anos: se Firth toma chope depois da briga, Valentine come McDonalds com vinho num jantar chique. Seu plano é apenas mais uma variação do clichê “destruir o mundo”, mas traz bom sustento do roteiro que Vaughn assina com a parceira Jane Goldman (ciência, ao comparar a Terra com o sistema imunológico, e religião, trazendo a história Arca de Noé à tona) e cenas de um nível de violência tão estilizado que chega a ser… belo. O festival de cabeças explodindo com fogos de artifício coloridos (fazer Valentine um sujeito que não aguenta ver sangue foi genial) e a já controversa cena da igreja são alguns exemplos. Seu tema, composto por Henry Jackman e Matthew Margeson é igualmente memorável.

Mas dentre todo o espetáculo de ação e o trabalho sólido dos veteranos em cena, o estreante Taron Egerton revela-se um ator carismático e com muito cacife para liderar uma produção do tipo. Seu Eggsy pode até ter pinta de bully e antipático, mas ao passo em que o roteiro vai explorando seu passado e também seu interior (pode parecer um bruto, mas adora pugs e My Fair Lady), Egerton vai caindo cada vez mais na graça do público. E sua transformação de trombadinha a “Colin Firth” – com os óculos e tudo o mais – é muito interessante, merecendo aplausos pela excelente rima temática e visual que Vaughn executa na cena final.

Kingsman: Serviço Secreto é tudo que um bom blockbuster deveria ser, misturando ação estilizada com humor inteligente, sarcasmo e uma metalinguagem acertadíssima. Uma ode ao gênero de espionagem pra deixar qualquer um sorrindo de orelha a orelha, comprovando que Matthew Vaughn é quem mais acerta no que faz.

Obs: Os créditos começam a rodar, mas uma cena imperdível é exibida durante a metade destes.

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