No início de sua carreira, Ridley Scott fez duas das maiores contribuições para o gênero da ficção científica, além de permanecerem como seus melhores trabalhos: Alien – O Oitavo Passageiro e Blade Runner: O Caçador de Andróides. Scott só retornou ao espaço com Prometheus, e agora com Perdido em Marte, filme que definitivamente não vai mudar o gênero ou o mundo, mas vai garantir entretenimento de primeira.
Adaptada do livro homônimo de Andy Weir, a trama começa com uma missão tripulada para o planeta Marte, contando com os astronautas Mark Watney (Matt Damon), Melissa Lewis (Jessica Chastain), Rick Martinez (Michael Peña), Beth Johanssen (Kate Mara), Alex Vogel (Aksel Hennie) e Chris Beck (Sebastian Stan). Após uma violenta tempestade, Watney é deixado para trás e dado como morto, enquanto a tripulação retorna para a Terra. Bom, surpresa, Watney está vivo e precisará encontrar um jeito de sobreviver sozinho no planeta até que a NASA possa resgatá-lo.
É mais uma história solitária e desesperada de sobrevivência, só que não. O roteiro de Drew Goddard não foca-se apenas na situação de Mark, e este não é o sujeito mais desesperado que estamos acostumado. Watney é um botanista otimista e que procura manter o bom humor (ainda que em diversos momentos, o desespero bata à porta), e Goddard traz soluções críveis para as muitas adversidades enfrentadas pelo protagonista, desde uma improvisada plantação de batatas com um fertilizante naturalíssimo ou o uso de um alfabeto nerd para estabelecer uma lenta comunicação. Claro, a narrativa depende de muitos Deus Ex Machina para funcionar, principalmente quanto à aparição quase súbita de sondas e módulos terrestres que já estavam em Marte, mas a boa atuação de Damon faz valer os eventuais exageros.
As cenas na Terra não têm o mesmo ânimo das do protagonista marciano, mas funcionam pela abordagem delicada dos cientistas e executivos. Jeff Daniels se sai bem como o diretor da NASA, sujeito linha dura e que não se incomoda em mentir a fim de alcançar um objetivo (como ocultar da tripulação a notícia da sobrevivência de Mark), mas que revela um limite moral ao se recusar a arriscar a segurança da tripulação, quando lhe é proposto que esta retorne para salvar Mark. O elenco estelar desempenha bem seus papéis, ainda que poucos tenham a chance de realmente se destacar a nível de prêmios, com Donald Glover e Chiwetel Ejifor tendo os personagens mais adoráveis. A tripulação não tem muita personalidade, com Michael Peña fazendo o obrigatório alívio cômico e Jessica Chastain cria uma comandante forte, mas não muito desenvolvida. E me disseram que Kristen Wiig estava no filme, mas só a vi umas duas vezes…
Tecnicamente, é um longa impecável. A fotografia de Darius Wolski captura a beleza das paisagens marcianas, fazendo também um belo uso do 3D, graças a planos bem abertos que garantem profundidade e um uso acertado dos efeitos visuais: a tempestade que assola os personagens no primeiro ato fornece uma imersão impressionante. E ainda que o filme tenha um ritmo divertido e vívido (benefícios da ótima montagem de Pietro Scalia e da trilha musical com disco music), Scott nos lembra dos velhos tempos ao trazer um ou outro momento mais intenso, como uma auto-cirurgia e o espetacular clímax. E que coma a primeira batata marciana quem não se arrepiou quando as letras do título sumiram ao estilo Alien…
Perdido em Marteé um filme que surpreende pelo otimismo e o bom humor, e que deve despertar o interesse de muitos em exploração espacial. Ridley Scott pode errar bastante, mas compensa esperar por um projeto certeiro como este.
Kennedi Clements assume o papel icônico de Heather O’Rourke
Quando parei para assistir ao Poltergeist original de 1982, me surpreendi com a capacidade do filme em combinar com maestria o gênero do terror com um de aventura para toda a família. O filme dirigido por Tobe Hooper e co-escrito por Steven Spielberg era uma pérola oitentista, detentora de um clima único daquele período saudoso. Infelizmente, o novo Poltergeist: O Fenômeno falha feio ao se mostrar relevante.
A trama é exatamente igual a do filme original (e de 80% dos filmes do gênero), começando quando a família Bowen (Sam Rockwell, Rosemarie DeWitt, Saxon Sharbino, Kyle Catlett e Kennedi Clements) se muda para uma nova casa, graças a dificuldades financeiras. Estranhos acontecimentos passam a ocorrer, especialmente com a caçula Madison, que acaba sendo transportada por espíritos para uma outra dimensão, acessível por aparelhos eletrônicos. Desesperada, a família recorre a investigadores paranormais.
Durante toda a projeção, só pensava numa coisa: já vi isso, e já vi melhor. Não só pela óbvia comparação ao filme de 1982, mas também em perceber como esse Poltergeist empalidece diante dos melhores exemplares contemporâneos do gênero, especialmente os filmes de James Wan ou até mesmo o sólido remake de A Morte do Demônio, que adotava o espírito e atualizava a técnica. Aqui, o diretor Gil Kenan (estreando no live action após A Casa Monstro e Cidade das Sombras) demonstra domínio de alguns travellings digitais inventivos e bons movimentos de câmera, mas não sabe se dirige um terror ou uma comédia – as piadinhas são tão óbvias, que olha…
Nem o terror é acertado, já que Kenan abusa do design de som para criar jump scares artificiais provocados por ações comuns, como uma mão no ombro ou inocentes batidas em portas. Já quando se arrisca a recriar duas das ameaças mais icônicas do original (o galho de árvore e o palhaço sinistro), o diretor parece não saber o que faz, trazendo efeitos digitais sem graça e uma “briga” entre o garoto e o palhaço que chega a ser risível. Mas admito que o diretor acerta na elaboração visual da dimensão “poltergeist” durante o clímax (composta por incontáveis “zumbis fantasmas” que impressionam em seu design), que também funciona muito bem em 3D.
O tom fica no balanço entre humor e terror, mas o espírito aventureiro para toda a família do original é esquecido, já que nenhum dos personagens tem o mínimo de carisma para criar um interesse por parte do espectador. Sam Rockwell é um bom ator que funciona bem no piloto automático, mas a esposa vivida por Rosemarie DeWitt é desinteressante e todos os três filhos não convencem (com exceção da jovem Kennedi Clements, que assume com competência o papel da falecida Heather O’Rourke). Só Jared Harris que consegue acrescentar um pouco de charme a seu investigador Carrigan Burke, ainda que o personagem seja só mais um arquétipo batido do gênero. Poxa, o original tinha uma caça-fantasmas anã, sem falar na poderosa crítica ao preconceito ianque contra os nativo-americanos. Este aqui? Nada de inovador, a não ser um bocado de aparelhos da Apple.
Poltergeist: O Fenômeno é uma obra que não parece se decidir entre o terror e o humor, falhando miseravelmente em ambos. Pode até trazer um visual elaborado, mas não há nada aqui que justifique a visita ou sua existência, ainda mais quando o original está aí e envelheceu tão bem.
Tom Cruise e Emily Blunt em exoesqueletos robóticos. Quer mais?
Tom Cruise é implacável. Outrora um rostinho bonito adorado por todos, o cara cismou de virar ator de ação, e tem se mostrado muito interessado pela ficção científica nos últimos anos. Uns não aguentam mais ver sua cara, mas vira e mexe o ator consegue entregar um trabalho surpreendentemente bom. Foi assim com Missão: Impossível – Protocolo Fantasma em 2011, e o mesmo se repete com No Limite do Amanhã, acertadíssimo filme de Doug Liman que brinca com o gênero como não víamos há um bom tempo.
A trama é inspirada na HQ All You Need is Kill, de Hiroshi Sakurazaka, e traz uma guerra entre a humanidade e uma raça alienígena superior que vai levando a melhor no conflito. Nesse cenário, o assessor público militar Cage (Tom Cruise) se vê lançado em uma batalha decisiva para conter a ameaça, mas se surpreende quando encontra-se em um loop temporal: ao morrer, acorda um dia antes da invasão, e assim sucessivamente.
Basicamente, é um Feitiço do Tempo (aquele do Bill Murray) com alienígenas e exoesqueletos metálicos. O roteiro de Christopher McQuarrie, e dos irmãos Jez e John-Henry Butterworth é eficaz ao misturar diversos elementos diferentes na trama, que salta eficientemente entre a ficção científica, a ação (especialmente a de guerra, com a invasão central remetendo diretamente ao Dia D da Segunda Guerra Mundial) e até acertadas pitadas de humor – especialmente quando conhecemos o personagem de Cruise, um sujeito sem experiência de combate, permitindo que o ator trabalhe sua vulnerabilidade. A mistura funciona bem e empolga nos rápidos 117 minutos de projeção, e Liman já provou sua capacidade de comandar boas cenas de ação, tanto em A Identidade Bourne e Sr. & Sra. Smith quanto no irregular Jumper.
Mas o que realmente nos faz amar esse filme, é a estrutura básica de sua narrativa. Como um videogame, o personagem de Cruise vai morrendo e acordando novamente por quase toda a trama. Serve para boas piadas no início (com as diferentes mortes que Cage sofre) e depois domina completamente a trama quando o protagonista começa a usar sua anomalia a favor dos humanos na guerra, e a montagem absolutamente brilhante de James Herbert é ágil ao economizar tempo para retratar alguns avanços da história (mesmo que vejamos uma cena pela primeira vez, Cage revela que já viveu o evento inúmeras outras vezes), mantendo o filme em um ritmo frenético e com boas surpresas. Outro fator inesperado é Emily Blunt: quem diria que a linda atriz britânica daria uma baita heroína de ação, deixando o veterano Cruise no chinelo ao retratar uma militar notória, durona, sexy… e, ainda assim, emocionalmente frágil.
Se há um fator a se reclamar em No Limite do Amanhã é seu terceiro ato. Dentro da lógica narrativa, seria inevitável que a trama tomasse o rumo escolhido, mas também é impossível não perceber a notável queda de qualidade na transição da ficção científica para a ação genérica, no ponto em que os humanos vão encontrando uma forma de erradicar de vez os alienígenas. Felizmente, encontra uma resolução digna e sensata dentro de sua proposta (ainda que eu imaginasse algo diferente, mas enfim).
No Limite do Amanhã é uma agradável surpresa. Entretenimento blockbuster de primeira, explora com habilidade um dos gêneros mais complicados e fascinantes do cinema, soando quase como um sopro de originalidade em um mercado dominado por super-heróis. Sério, é uma sensação muito satisfatória.
Obs: Não assisti ao filme em 3D, mas como é convertido, não deve valer o preço a mais.
Foi só hoje que de fato me debrucei sobre o próximo trabalho do diretor Robert Zemeckis (que retornou ao live action com o eficiente O Voo, em 2012). Zemeckis cuida no momento de To Reach the Clouds, uma adaptação em 3D sobre a vida do equilibrista Philippe Petit, que foi retratado no documentário oscarizado O Equilibrista, ganhando as feições de Joseph Gordon-Levitt.
Petit ficou famoso mundialmente por andar em uma corda bamba entre as duas torres do World Trade Center, evento que deve ser um dos pontos altos da produção.
To Reach the Clouds tem estreia marcada para 2 de Outubro de 2015.
De todos os milhares de títulos de videogames existentes, Need for Speed é certamente um dos que dificilmente renderia uma boa adaptação. Não sou expert em jogos de corrida, mas a franquia da EA Games nunca foi lembrada por sua história, e este é um elemento irrelevante no caso – já que o único propósito da série é entreter os jogadores com suas corridas. É mais ou menos o que acontece com essa adaptação cinematográfica, mas nem a ação é capaz de valer a experiência.
A trama nos apresenta ao habilidoso piloto Tobey Marshall (Aaron Paul, o Jesse Pinkman de Breaking Bad), que serve pena na prisão após ser injustamente acusado pelo homicídio culposo de seu melhor amigo. Em liberdade, Tobey reúne sua antiga equipe para planejar uma vingança contra o verdadeiro assassino (Dominic Cooper), na forma de uma grandiosa corrida clandestina.
Bem, não se pode esperar muito apuro intelectual ou um roteiro incrível de uma obra do tipo (mas a esperança nunca morre), vide a historinha risível que o roteiro do estreante George Gatins sofre para contar: motivações bobinhas, coadjuvantes forçadamente reduzidos a alívios cômicos intrusivos (ainda que o piloto vivido por Scott Mescudi se destaque por representar a típica figura de ajuda onipresente comumente encontrada em games) e um antagonista absurdamente estúpido. Dentre todos os erros, o maior deles certamente é que o diretor Scott Waughs leva tudo a sério demais. A franquia Velozes e Furiosos é longe de ser perfeita, mas funciona – e diverte – pois seus realizadores sabem exatamente o tipo de produção em que estão envolvidos. Need for Speed – O Filme chega até a ser chato na metade da projeção.
Elefante da sala devidamente retirado, vamos aos motivos para que alguém compraria um ingresso para o filme: carros e, no meu caso, Aaron Paul. O último se sai bem e traz carisma de sobra num papel típico de herói de ação, e ainda tem a oportunidade de brilhar em um ou dois momentos mais “dramáticos”. Já nas cenas que retratam a necessidade por velocidade de seus protagonistas, Waughs é habilidoso com suas escolhas de câmera (especialmente naquela que emula a tela de um game ao posicioná-la no painel de um veículo ou em outra fixada em um carro enquanto este rodopia pelo ar) e a sonoplastia traduz com eficiência os poderosos motores dos Mustangs, Lamborghinis, entre outros, envenenados. Nada revolucionário, mas que ao menos distrai.
Elefante da sala devidamente retirado, vamos aos motivos para que alguém compraria um ingresso para o filme: carros e, no meu caso, Aaron Paul. O último se sai bem e traz carisma de sobra num papel típico de herói de ação, e ainda tem a oportunidade de brilhar em um ou dois momentos mais “dramáticos”. Já nas cenas que retratam a necessidade por velocidade de seus protagonistas, Waughs é habilidoso com suas escolhas de câmera (especialmente naquela que emula a tela de um game ao posicioná-la no painel de um veículo ou em outra fixada em um carro enquanto este rodopia pelo ar) e a sonoplastia traduz com eficiência os poderosos motores dos Mustangs, Lamborghinis, entre outros, envenenados. Nada inovador, mas que ao menos distrai.
Capaz de despertar genuína empolgação com músicas incidentais como um cover bacana de Jamie N Commons para “All Along the Watchtower” e “Roads Untraveled”, do Linkin Park, a verdade é que caso Need for Speed – O Filme fosse mais um exemplar da série de games homônima, eu indubitavelmente “pularia” todas as cutscenes para chegar direto à ação. O problema nessa adaptação cinematográfica fica na impossibilidade de se fugir dos momentos entediantes – a menos que você seja o projecionista – e outra pessoa está “jogando” no seu lugar.
Obs: O 3D convertido é um dos piores que eu já vi. Não sei se foi só a minha sessão, mas a imagem estava incomodamente escura.
Obs II:Há uma curta cena extra logo no começo dos créditos finais.
Obs III: Três personagens diferentes usam a palavra “bitch”, e o de Aaron Paul não é um deles…
Quando era criança, Jurassic Park – Parque dos Dinossauros era um de meus filmes preferidos. Ao ter a notícia de que o filme seria relançado nos cinemas no formato 3D, evitei ao máximo assistir ao filme novamente (algo que não fazia há uns 5-6 anos até a estreia nos cinemas, neste ano). Com isso, voltei a ser aquela criança cujo queixo chegava até o chão ao contemplar essa maravilhosa aventura de Steven Spielberg e seus espetaculares dinossauros.
A trama, você bem sabe, envolve a criação de um parque temático com dinossauros reais. Graças à descoberta de um mosquito fossilizado, o milionário John Hammond (Richard Attenborough) torna possível a clonagem de uma amostra de sangue do período jurássico e, consequentemente, a criação genética de dinossauros. Acompanhado de dois paleontólogos (Sam Neill e Laura Dern) e de um cientista cool (Jeff Goldblum), Hammond promove uma visita ao local – que, obviamente, sai do controle.
Lançado originalmente em 1993, Jurassic Park continua impressionante. A mistura de efeitos digitais com animatrônicos (do falecido mestre Stan Winston) é perfeita e, mesmo 20 anos depois e com tecnologias superiores, faz jus ao espetáculo: a antológica primeira aparição do imponente T-Rex permanece uma aula de cinema acerca da criação do suspense (nada mais justo, já que é comandada pelo gênio responsável por Tubarão) e, confesso, por alguns momentos acreditei que aquilo era real – é o poder da magia da Sétima Arte. Ainda sobre execução, é triste olhar Jurassic Park e perceber que Steven Spielberg não faz mais filmes assim: o cineasta agora parece mais preocupado com dramas e biografias e, mesmo que não sejam de qualidade ruim, ficam abaixo do talento do diretor em criar imbatíveis tons de aventura e humor.
John Williams segue a mesma linha. Um dos maiores compositores musicais de todos os tempos, tem aqui um de seus mais icônicos temas (convenhamos, o cara manja quando o assunto é criação de temas icônicos) e faixas que ajudam a maravilhar as espetaculares imagens. E tais imagens ficam absurdamente bem ressaltadas na conversão em 3D do filme, que chega a chocar de tão eficiente – ficando até melhor do que aquela feita no relançamento de Titanic, supervisionada pelo próprio James Cameron.
Certamente um dos melhores filmes da carreira de Steven Spielberg, Jurassic Park – Parque dos Dinossauros é uma obra divertidíssima e que merece ser revisitada nas telonas novamente. Até mesmo seu diretor poderia fazê-lo, e lembrar-se de como seu talento para o gênero pode ser divino.
Cadê o Michael Bay agora, hein? Os robôs de Guillermo Del Toro impressionam pela escala
Quando comecei a me inteirar sobre o material temático de Círculo de Fogo, que prometia batalhas homéricas entre monstros colossais e robôs igualmente colossais, não pude evitar de temer pelo monte de excremento que julgava ser este filme. No entanto, nunca posso me dar ao erro de esquecer quem é o artista por trás das câmeras: Guillermo Del Toro.
A trama parte de um roteiro original de Travis Beacham e do próprio Del Toro, mas com clara inspiração na cultura japonesa de monstros gigantes (o termo “Kaiju” é utilizado com frequência), onde a Terra encontra-se em constante ataque de criaturas que emergem de uma fenda no oceano pacífico (região real que atende pelo tal do Círculo, ou Anel, de Fogo do título, que no original é Pacific Rim) e que necessitam de poderosos robôs gigantes operados por humanos para defender as grandes cidades.
Em outras palavras, ROBÔS GIGANTES ARREBENTANDO MONSTROS GIGANTES. E só o uso do caps lock para ajudar a ilustrar a grandeza visual que é Círculo de Fogo. Todas as cenas de ação impressionam pela escala e o cuidado em retratar as gigantes armaduras de forma a ilustrar o peso destas (ao contrário daqueles vistos em Transformers, aqui os robôs têm seus movimentos muito mais demorados) e também a diversidade em seu visual. Depois de O Labirinto do Fauno e Hellboy II – O Exército Dourado, não achava que Del Toro continuaria me impressionando com sua imensa criatividade ao elaborar distintas criaturas: seja no design dos Jeigers ou dos detalhadíssimos Kaijus, a equipe de direção de arte do diretor acerta em cheio.
E da mesma forma que os efeitos visuais da ILM dão vida com maestria a todos esses elementos, o roteiro de Beacham e Del Toro é hábil ao criar um mundo afetado pela presença destes. Um dos mais memoráveis exemplos no Hannibal Chau de Ron Perlman, um excêntrico comerciante de “partes” de Kaijus em um mercado negro, personagem que certamente foi tão divertido para a dupla escrever como foi para o ator interpretá-lo. Infelizmente, o personagem de Perlman é a única figura memorável do filme, já que todos os outros não passam de criaturas estereotipadas e arquétipas; algo que é bom quando diverte (vide os cientistas “malucos” vividos por Charlie Day e Burn Gorman), mas que aborrece quando somos forçados a engolir clichês do tipo “o parente próximo que morreu” ou, deus me livre, o de “relação problemática com o pai”. Além disso, o que dizer da Mako Mori de Rinko Kikuch0i, que apresenta nociva dificuldade em controlar um Jeiger com sua mente (até colocando em risco as vidas de todos os seus colegas em sua primeira experiência), mas que o roteiro o soluciona ao simplesmente trazer um dos personagens dizendo que “A primeira vez é sempre difícil”?
Mas mesmo com diversos problemas de roteiro, Círculo de Fogo oferece uma experiência contagiante graças ao tom adotado pelo cineasta: a de que tudo isto não é tão das produções de monstros gigantes tão populares no Japão. Diversão garantida.
Obs: Assista ao filme na maior tela possível. O 3D não é nada mal.
Obs II: Há uma hilária cena durante os créditos finais.
É um pássaro? É um avião? Não, é o Super… Ah, você já sabe o resto. Pois bem, O Homem de Aço enfim chega aos cinemas brasileiros, após um atraso torturante de um mês (mas com sessões de pré-estreias para satisfazer a alguns), prometendo uma roupagem inédita para o maior super-herói de todos os tempos. Como ficará a DC após o filme? O que Christopher Nolan fez pelo projeto? E a Liga da Justiça? Confiram no especial:
Algumas questões acerca da nova aventura do Superman nos cinemas.
Como O Homem de Aço se encaixa na franquia?
Esperança
REBOOT! O novo filme de Superman ignora completamente os longas anteriores, e é o primeiro passo para iniciar uma nova franquia para o personagem e estabelecer um universo da DC Comics nos cinemas. Dessa forma, veremos aqui novamente a origem do herói.
Quem é Henry Cavill?
Henry Cavill é o novo Superman
Nascido na Inglaterra em 1983, Henry Cavill tentou muita coisa antes de se tornar o novo Homem de Aço. Perdeu o papel de James Bond para Daniel Craig em 2006 (e já declarou que ainda quer fazê-l0), ficou velho demais para interpretar o vampiro Edward Cullen em Crepúsculo e foi dispensado quando Bryan Singer tocou Superman – O Retorno. Ficou mais conhecido por sua participação na série de TV The Tudors e chamou a atenção no épico de mitologia grega Imortais, que lhe rendeu a oportunidade de conhecer Zack Snyder. E agora, enfim, Cavill promete dominar o mundo na pele do Superman.
O que Christopher Nolan tem a ver com o filme?
Christopher Nolan troca uma ideia com Zack Snyder no set
Enquanto Christopher Nolan e o roteirista David Goyer trabalhavam na história de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, eis que um bloqueio criativo trava a dupla. Buscando inspiração em sua coleção de HQs, Goyer acaba por ter uma ideia para um filme do Superman; compartilando-a com o diretor da trilogia Cavaleiro das Trevas. Nolan aprovou a ideia e logo ligou para a Warner oferecendo o argumento de Goyer. Tendo enchido os cofres do estúdio com bilhões de dólares em bilheteria, sua ideia foi aceita e este tornou-se produtor do que viria a ser O Homem de Aço.
O novo Superman está relacionado com o Batman ou a Liga da Justiça?
A foto é montagem, claro, mas muito bem feita
Com o Batman do Nolan? Nada. Já com a Liga da Justiça, o presidente da Warner Bros, Jeff Robinov, afirmou que O Homem de Aço foi feito de forma a permitir a entrada de outros personagens do mesmo universo (mas deixando a trilogia de Nolan isolada). Por tal motivo, o sucesso desse novo filme é fundamental para o desenvolvimento de mais filmes de super-heróis da editora, para enfim culminar em Liga da Justiça. No entanto, Zack Snyder afirmou que seu Superman ainda não está “amadurecido” a ponto de comandar o grupo super-heroico da DC, então é mais viável que a reivenção do herói gere primeiro uma trilogia. A sequência já está iniciando sua produção, com lançamento previsto para 2015.
O 3D do filme é convertido ou filmado?
Zack Snyder e o suado Henry Cavill analisam resultados
Como Snyder gravou todo o filme em película 35mm, e a maioria das tomadas foram feitas com câmera-na-mão, o 3D aqui é convertido. Claro que foi pressão da Warner (o próprio Snyder afirmou que o 3D é “apenas uma forma alternativa”), mas o resultado é até decente; não acrescenta nada, mas também não prejudica a experiência.
O tema clássico de John Williams está no filme?
O alemão Hans Zimmer
É o primeiro filme do Superman sem a icônica composição de John Williams. Quem entra para assumir a grande responsabilidade de criar um novo tema musical para o herói é o genial Hans Zimmer, que já fez bonito ao traduzir sonoramente as histórias de O Cavaleiro das Trevas, A Origem, o novo Sherlock Holmes, entre muitos outros trabalhos notáveis. Sua trilha para O Homem de Aço já está à venda na Amazon, mas também disponível no Youtube. Confira o tema principal:
E o Lex Luthor?
O prédio da LexCorp aparece ao fundo
Entre os diversos easter eggs presentes em O Homem de Aço, um dos mais notáveis é a presença do logotipo da LexCorp em algumas cenas. Com a sequência do filme já em pré-produção, Zack Snyder confirmou que Lex Luthor será o grande vilão do filme. Interessante notar que a escolha segue a estrutura da trilogia Batman de Christopher Nolan: trazer o arqui-inimigo do herói apenas no segundo filme (tal como o Coringa só aparecia em Batman – O Cavaleiro das Trevas). Só falta escolher o ator…
Superman/Clark Kent/Kal-El | Henry Cavill
Enviado para a Terra após a destruição de seu planeta natal, Krypton, Kal-El foi criado junto aos humanos sob a identidade de Clark Kent. Quando suas incríveis habilidades começaram a se manifestar ao longo de sua adolescência, tomou conhecimento de sua verdadeira origem e partiu em uma jornada para descobrir o propósito de sua existência. A busca o leva para fora da fazenda dos Kent e culmina no descobrimento da Fortaleza da Solidão, onde encontra a informação necessária para transformá-lo naquilo que viria a ser o Superman.
Lois Lane | Amy Adams
Jornalista no Planeta Diário, o principal veículo midiático de Metrópolis, Lois Lane é persistente e talentosa no que faz. Seu principal objetivo consiste na investigação sobre as manifestações de Kal-El na Terra, que vê tanto como um “anjo da guarda” ou um forasteiro incapaz de se conectar com a civilização. O trabalho de Lois a levará mais próxima do misterioso sujeito e, consequentemente, a uma relação mais íntima.
Jor-El | Russel Crowe
Pai de Kal-El e importante figura científica de Krypton, Jor-El tenta alertar seu povo sobre a inevitável destruição do planeta – consequência da constante exploração de seus recursos naturais. Em uma tentativa desesperada de salvar seu filho, o envia para a Terra junto com informações essenciais para a preservação de sua espécie; além de uma inteligência artificial que preserva sua consciência.
General Zod | Michael Shannon
Poderoso e bem treinado general da força militar de Krypton, encontramos Zod em uma tentativa de assumir o controle do planeta ao promover um golpe de estado. Quando este falha graças à oposição de Jor-El, ele e seus companheiros são capturados e banidos para uma prisão espacial, onde o general promete rastrear e encontrar o filho perdido de El.
Faora-Ul | Antje Traue
Braço direito de Zod, Faora-Ul é uma impecável guerreira que compartilha das mesmas habilidades de Kal-El. Não aprendemos muito sobre sua história, mas Faora surpreende pelas incríveis cenas de ação que contracena com Superman. Preste atenção, ela é foda.
Perry White | Laurence Fishburne
Editor-chefe do jornal Planeta Diário, Perry White recebe a proposta de Lois Lane de investigar o misterioso homem de outro planeta com muito ceticismo. Sua posição muda radicalmente quando testemunha as ameaças do General Zod.
Jonathan e Martha Kent | Kevin Costner e Diane Lane
Jonathan e Marha Kent são um casal de fazendeiros do Kansas que encontrou o bebê Kal-El e o criou entre humanos sob a identidade de Clark Kent. Os dois são importantes por auxiliar o jovem a dominar suas habilidades e fornecer preciosas lições de moral quanto a sua função na sociedade, acreditando que sua natureza extraterrestre deva permanecer em segredo.
Uma breve análise sobre as aventuras (e desventuras) do Superman nos cinemas:
Superman: O Filme (1978)
Nas palavras do personagem Holis Mason (Watchmen), Superman: O Filme é a aurora do super-herói no cinema. O filme de Richard Dooner é uma maravilhosa aventura que inovou os efeitos visuais para a época e revelou ao mundo a imensa competência de Christopher Reeve, que permanece até hoje como o Homem de Aço definitivo – e provavelmente permanecerá assim. É um longa embalado por uma inesquecível trilha sonora de John Williams, momentos icônicos e ideias malucas que incluem uma alteração no eixo da Terra.
Superman II – A Aventura Continua (1980)
Após conflitos criativos forçarem o diretor Richard Donner abandonar a produção de Superman II (que fora rodado simultaneamente ao primeiro), o britânico Richard Lester entrou para a segunda aventura do Homem de Aço. Mesmo que não seja bom quanto o antecessor, aprimora os efeitos visuais e as cenas de ação, o que se deve à presença dos supervilões liderados pelo general Zod (Terence Stamp, novinho). Mantém a diversão e o ótimo elenco, mais uma vez encabeçado por Christopher Reeve. Para os fãs die-hard: em 2006, Richard Donner lançou sua versão do filme, que traz cenas inéditas e muitas mudanças na história.
Superman III (1983)
Não sei quem teve a horrível ideia de trazer Richard Pryor para Superman III. Péssimo ator e alívio cômico sem graça nenhuma, o terceiro filme da série passa mais tempo centrado em seu abobalhado personagem e suas descobertas tecnológicas do que com o herói em si – cujo ápice de seu aproveitamento reside na criativa invenção de uma “personalidade maligna”. O filme de Richard Leister traz também muitos comentários sociais (aumento do petróleo, avanço dos computadores na sociedade…) e uma ou outra boa ideia, mas é um feito esquecível e para se assistir apenas para comprovar sua existência.
Superman IV – A Conquista da Paz (1987)
Se o terceiro filme já era fraquinho, Em Busca da Paz consegue ser um dos mais embaraçosamente ruins filmes de super-heróis de todos os tempos (junto com Batman & Robin). O filme de Sidney J. Furie é uma tediosa propaganda contra a corrida armamentista do início ao fim, tendo como grande inimigo da vez o Rídiculo – com r maiúsculo – Homem Nuclear, que protagoniza algumas das cenas de luta com maior incongruência de espaço que já vi. É tão ruim que diverte, mas um verdadeiro insulto ao Superman.
Superman – O Retorno (2006)
Eu realmente não entendo todo a repulsa a Superman – O Retorno. Talvez seja pelo fato de este ser sido o primeiro filme do herói que vi, mas o resultado atingido por Bryan Singer me agradou bastante. Tudo bem que o filme passa boa parte da projeção prestando uma série de homenagens visuais e temáticas ao original de Richard Donner (em termos de roteiro, é praticamente a mesma estrutura), mas é uma aventura divertida e genuína; além de trazer um Kevin Spacey inspiradíssimo na pele do vilão Lex Luthor.
Conheça aqui os filmes do Superman que, infelizmente (ou felizmente), nunca aconteceram:
Superman Reborn (1994-95)
Com o sucesso de Batman e Batman – O Retorno, a Warner revirou seus gibis da DC Comics para se surpreender com uma história onde o Superman é morto pelo vilão Doomsday (mas depois ressuscitado, afinal Superman é Superman) e logo deu sinal verde para a produção de Superman Reborn. Os roteiristas Jonathan Lemkin e Gregory Poirier seguiram a sugestão e bolaram uma trama na qual o kryptoniano encontra o vilão Brainiac, é derrotado por Doomsday e renasce através de um filho de Lois Lane (?). Com tamanhos absurdos, o produtor Lorenzo di Bonaventura sugeriu uma revisão ao produtor Jon Peters.
Superman Lives (1996-1998)
Chocado com o conteúdo de Superman Reborn, o ultra-fã Kevin Smith (de O Balconista e O Império do Besteirol Contra-Ataca) manteu a premissa do vilão Doomsday (que agora é fruto de uma aliança entre Lex Luthor e Brainiac) e ainda adicionou participações especiais de figuras como Batman e Deadshot. Mas com o sucesso estrondoso de Marte Ataca!, Tim Burton entrou na produção e logo dispensou o roteiro de Smith, substituindo-o por seu co-roteirista de Batman – O Retorno: Wesley Strick. Nicolas Cage foi escalado para viver Superman, mas o projeto foi lentamente se perdendo graças às divergências criativas, orçamento altíssimo (os boatos dentro da Warner dizem que as empresas de brinquedos tinham participação criativa no filme, visando lucro de vendas no período de estreia) e… ideias ruins demais para ver a luz do dia: um Superman cabeludo que não voa, tem mochila a jato e um “super-móvel”. Enquanto Burton afirma se tratar de uns piores períodos de sua vida, Cage falou recentemente que “o filme teria se tornado algo muito especial”. Então, tá.
Batman vs. Superman (2001-2002)
Este é certamente um dos mais populares “filmes que nunca saíram do papel”. O embate entre os dois maiores super-heróis da editora foi roteirizado por Andrew Kevin Walker (de Seven – Os Sete Crimes Capitais, uhul) e revisado por Akiva Goldsman (de, er… Batman & Robin), tendo o comando de Wolfgang Peterson (Mar em Fúria) para uma estreia no verão de 2004. O filme nunca rolou, e o máximo que os fãs tiveram de contemplar o evento foi um easter egg presente de relance em Eu Sou a Lenda. Batman e Superman nunca se enfrentaram nos cinemas em decorrência de um homem, logo abaixo.
Superman: Flyby (2001-2006)
O homem que hoje tem nas mãos as duas franquias de ficção mais populares de todos os tempos já chegou perto de fazer parte do universo de Superman. JJ Abrams roteirizou o elogiado Superman: Flyby, uma história de origem que resgatava a ideia da morte do personagem e trazia Lex Luthor como presidente dos Estados Unidos. A produção chegou a embalar com a entrada de McG (de, er… As Panteras), mas foi cancelada quando as filmagens seriam transferidas para estúdios na Austrália; um grande problema, já que o diretor apresentava um grave medo de voar.
Os visuais que Superman e seu alter ego Clark Kent já ganharam nos cinemas:
Richard Donner’s Superman, por Yvonne Blake
Uniforme: O trabalho de Yvonne Blake reproduz completamente o visual do herói dos quadrinhos, apostando nas cores vibrantes (afinal, eram os anos 70)
Cueca: Assim como nos quadrinhos, é uma sunga.
Clark Kent: Chapéu, terno e óculos com lentes enormes.
Bryan Singer’s Superman, por Louise Mingenbach
Uniforme: Para o filme de Bryan Singer, Mingenbach seguiu quase que a risca o modelo de Christopher Reeve, apenas escurecendo as cores e trazendo o símbolo no peito em alto relevo – além de adicionar um cinto mais “super”.
Roupa de baixo (por cima): Para uma era mais moderna, a cueca assume o padrão boxer.
Clark Kent: Cabelo pro lado, terno e óculos de borda de chifre médios.
Zack Snyder’s Superman, por James Acheson e Michael Wilkinson
Uniforme: Preocupando-se com um tom mais sombrio, Acheson e Wilkinson deixam o azul da roupa muito mais escuro
Roupa de baixo (por cima): Liberdade! A cueca some de uma vez por todas.
Clark Kent: Barbudo, maltrapilho e sem óculos. Até certo ponto do filme…
Relembremos agora as principais incursões do Superman na televisão:
Adventures of Superman (1952-1958)
A segunda versão em carne e osso do personagem (Kirk Alyn foi o primeiro, em um filme serial de 1948) de veio em 1952, com George Reeves estrelando Adventures of Superman. A série permaneceu no ar durante 6 temporadas, trazendo diversos elementos clássicos do Superman – foi aqui que se popularizou a chamada “é um pássaro? Um avião?”. A misteriosa morte do protagonista foi retratada no filme Hollywoodland – Bastidores da Fama, que traz Ben Affleck na pele de Reeves (e no uniforme do Homem de Aço).
Lois & Clark – As Novas Aventuras do Superman (1993-1997)
Mais centrada na relação entre Superman e a jornalista Lois Lane (como o próprio nome sugere), Lois & Clark durou 4 temporadas na ABC e trouxe Dean Caine na pele do Homem de Aço e Teri Hatcher como seu interesse amoroso. A história começa no momento em que Clark é contratado no Planeta Diário e culmina na tentativa do casal de ter filhos. Nunca assisti, mas é óbvio que a produção tem um apelo mais comédia romântica.
Smallvile (2001-2010)
Inubitavelmente a mais conhecida adaptação do Homem de Aço para as telinhas, Smallville se concentrou na adolescência do herói e a descoberta de seus poderes. Batizado pelo SBT como As Aventuras do Super-Boy, a série durou 10 temporadas e trouxe diversos personagens não apenas do universo do Superman (como Lois Lane, Lex Luthor, Bizarro, entre outros), mas também trouxe participações especiais de outros heróis da DC Comics. No fim, o que vale é ver Tom Welling correndo com o uniforme azul sob o tema de John Williams.
Você já deve ter visto nos trailers de O Homem de Aço (ou nas próprias HQs do personagem, claro), que o “S” no peito do Superman não corresponde à letra do alfabeto latino-romano. Trata-se na verdade de um símbolo Kryptoniano de esperança, adotado pela casa El. Confira no infográfico abaixo a evolução do símbolo nos quadrinhos e no cinema:
E também todos os seus uniformes, no cinema e nos quadrinhos:
Sim, sim, eu sei: que diabos é essa Sons of Jungle…
Alguns dos meus vilões preferidos do Superman nos quadrinhos, que podem ser boas adições à nova franquia:
Lex Luthor
Arqui-inimigo do Superman, e um dos grandes vilões da história dos quadrinhos, Lex Luthor é apenas um humano. Incapaz de enfrentar o herói em combates coporais (mesmo que ele já tenha usado uma armadura rídicula para fazê-lo), a força de Luthor está em seus recursos e inteligência; seja para encontrar vestígios da Kryptonita ou convencer toda a população de que o Homem de Aço é uma ameaça. No cinema, foi vivido por Gene Hackman e Kevin Spacey.
Brainiac
Brainiac é um andróide alienígena que, como o próprio nome sugere, é movido por sua imensa inteligência (Brain + Maniac) acerca de inúmeras áreas da Ciência, terrestre e extraterrestre. A partir desta, foi capaz de construir armas que projetassem campos de força, raios de encolhimento e até mesmo transferir sua consciência para outros corpos.
Bizarro
Um dos meus vilões preferidos de toda a DC Comics, Bizarro é uma versão oposta ao Superman: o símbolo no peito é espelhado, possui visão de congelar (ao contrário da de calor), sopro de chamas (ao invés do de congelar), visão de raio-X que só funciona para enxergar através do chumbo e quase todas as habiliades “xerocadas” de Kal-El; também sendo capaz de voar. Por favor, Zack Snyder, use-o em sua nova franquia!
Doomsday
Vilão que ficou conhecido por ter matado o Superman, Doomsday é um complexo cruzamento entre espécies alienígenas (uma delas, da pré-história kryptoniana, o que faz com que compartilhe algumas características com o Homem de Aço). Suas habilidades incluem resistência e força aprimoradas, podendo até ser ressuscitado depois de morto. Seria um ótimo inimigo para a Liga da Justiça, não?
Não sou muito especializado no universo do Superman, conhecem outros bons inimigos?
Com a Marvel Studios arrebatando 1,5 bilhões de dólares com Os Vingadores (e mais um bilhãozinho este ano com Homem de Ferro 3), os fãs de quadrinhos perguntam: e aí, DC Comics? A produtora trabalha duro para tocar o filme da Liga da Justiça e introduzir um a um seus personagens no cinema. O Homem de Aço é o passo inicial, mas não foi o primeiro.
Lanterna Verde
Lançado em 2011, Lanterna Verde foi a primeira tentativa da DC em lançar um personagem de quadrinhos no cinema que não se vista como um morcego ou traga um grande S no peito. No entanto, de bom só as intenções, já que o filme com Ryan Reynolds foi massacrado pela crítica e público, rendendo pouco mais de seu valor de custo ao redor do mundo. Para um filme da Liga, é bom provável que o herói ganhe um novo tratamento (e precisa, papéis de heróis requerem atores menos populares). O personagem é bom, só precisa estar nas mãos certas.
Batman
Oh, boy. Eu não queria isso, mas é inevitável: é chegada a hora de começar uma nova franquia do Batman, mesmo tendo a sombra da impecável trilogia Cavaleiro das Trevas pairando sobre as cabeças dos executivos. Todo tipo de conversa e boato já foi negado: Christian Bale definitivamente aposentou sua capa e Joseph Gordon-Levitt foi até procurado, mas a ideia logo foi descartada, deixando os filmes de Nolan isolados da Liga. Bem de relance em O Homem de Açoé possível ver um logotipo das Empresas Wayne, então é apenas uma questão de tempo até o Cavaleiro das Trevas (ou simplesmente Bruce Wayne) fazer uma aparição no próximo filme. Eu só espero que façam bonito.
Super-Girl
Essa é pra chocar. Mesmo que você não goste da Supergirl (meu caso), saiba que ela já deixou rastros em O Homem de Aço: de quem você acha que era aquela câmara aberta na nave encontrada por Clark? Trata-se de uma referência a Kara Zor-El, que é uma ancestral distante do Superman (de acordo com o filme, de 20 mil anos atrás) que parou na Terra em uma das diversas missões de exploração promovidas por Krypton. Tudo isso é explicado em uma história em quadrinhos que foi lançada para servir de prólogo ao novo filme. Isso sugere a possível participação da Supergirl em uma continuação, ou até mesmo um filme-solo.
Arqueiro Verde
O Arqueiro Verde é o equivalente da DC ao Gavião Arqueiro da Marvel (mas não se esqueça, o personagem da DC surgiu 10 anos antes do Gavião), tendo um arco-e-flecha como principal habilidade. O personagem ganhou uma série de TV recentemente, intitulada Arrow, e gerou uma calorosa recepção dos fãs e da crítica, garantindo sua 2ª temporada. Com sua popularidade crescendo, o Arqueiro certamente pode aparecer no filme da Liga da Justiça – com o mesmo ator, quem sabe?
Flash
Eu não estou tão a par da mitologia do Flash, mas me pergunto como um filme-solo do personagem poderia funcionar. Sua habilidade de ultra-velocidade certamente deve render ótimas cenas de ação (em O Homem de Aço, o elemento apareceu de relance com a personagem Faora), mas me soa como um herói que funcionaria melhor como um coadjuvante. Desde que se tenta fazer um filme do Flash na Warner, o roteiro vem sido descrito como um filme policial aos moldes de Se7en e CSI, tendo Bradley Cooper como favorito ao papel. É uma boa saída.
Aquaman
Sempre achei o Aquaman muito ridículo pra funcionar. O que me fez mudar de ideia foi sua radical abordagem no game Injustice: Gods Among Us, que traz o filho de Netuno trajando uma bela armadura e recebendo um tratamento de realeza dentro de seu universo. Um filme do herói certamente pesaria muito para o lado fantástico (sem falar que haveriam diversas cenas submarinas, claro), então também precisa ser muito bem pensado. Uma boa alternativa seria lhe dar o tratamento Thor de “peixe-fora-da-água” (sem trocadilhos), mas sem transformá-lo numa comédia.
Mulher-Maravilha
Desculpa, mas alguém que tenha como arma um “laço da justiça” não merece ver a luz do dias nas telonas. Ponham a Super-Girl, mas esqueçam a Mulher-Maravilha… A Guerreira Amazona já ganhou uma popular série de TV em 1975 e teria aparecido novamente em 2011, se não fosse cancelada logo após a exibição de seu episódio-piloto. Para funcionar, precisam abraçar seu lado alienígena – como foi feito com o Superman em O Homem de Aço.
Que outros heróis da DC podemos ver nos cinemas?
O especial do filme fica por aqui, mas a crítica de O Homem de Aço já está no ar, veja aqui!
Brad Pitt larga o negócio de matar nazistas e entra para o de matar zumbis
Zumbis estão em alta. O sucesso da série de tv americana The Walking Dead (que eu assistiria, não fosse tão tediosa) trouxe de volta ao imaginário pop as criaturas moribundas e sedentas por carne humana, rendendo diferentes abordagens e encarnações para seu perfil tão icônico. Guerra Mundial Z junta tudo isso e ainda traz novos elementos para o gênero, resultando em um eficiente thriller.
A trama é livremente adaptada do livro de Max Brooks (que também publicou divertidíssimo Guia de Sobrevivência a Zumbis) por Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard e Damon Lindelof, centrando-se no investigador da ONU Gerry Lane (Brad Pitt), que é forçado a auxiliar a agência quando uma cataclísmica infestação zumbi misteriosamente assola 5% da população mundial.
Da premissa arquétipa até a proliferação mortal sem explicações acerca de sua origem (como dita a tradição do bom e velho George Romero), Guerra Mundial Z acerta ao economizar precioso tempo evitando cair na “didática” do gênero. Em menos de 30 minutos de projeção, o diretor Marc Forster já nos apresenta de cara às ameaças, introduz com inteligência suas características – através de uma sequência que revela a transformação de um cidadão em zumbi sendo acompanhado pela contagem de tempo de Gerry – e coloca os personagens no meio da ação; dando-lhes até armas de fogo. Até mesmo a palavra “zumbi” é constantemente proferida pelos personagens o que revela, graças às reações céticas dos militares ao ouví-la, a sutil possibilidade de estes habitarem um universo onde mortos-vivos fazem parte da cultura pop.
Forster é habilidoso ao retratar a ambientação da história e seu crescente senso de alarmismo global (que passa por uma Filadélfia infestada de automóveis até uma Jerusalém infestada de multidões) ao longo de suas 2 horas de projeção. O diretor também sabe quando o filme requer um toque de aventura, mas jamais se esquece do suspense que seus antagonistas são capazes de provocar (a sequência no terceiro ato é soberba nesse quesito graças à sua condução silenciosa e montagem equilibrada) ou do drama – aqui, uma amputação em offscreen é chocante graças à sua imprevisibilidade, e a aparente naturalidad” com que ocorre. No entanto, Forster demonstra um talento inversamente proporcional nas cenas de ação (algo que já tinha provado com 007 – Quantum of Solace), apostando na câmera tremida e nos cortes em excesso; algo que funciona apenas para conferir maior “realismo” às criaturas digitais ou para aumentar a dor de cabeça resultante do descartável 3D convertido (que só é válido para exarcebar os muitos sustos).
Impressiona aqui a desumanização presente nas criaturas canibais: em um esperto comentário social (afinal, os grandes filmes do gênero sempre trazem uma mensagem em suas entrelinhas) acerca da superpopulação do planeta, os zumbis de Marc Forster são aglomerados de pessoas que atingem o absurdo ao se amontoarem até formar uma “montanha” de seres vivos. É visualmente assustador, e – mesmo sendo “light” em sua quantidade de violência – confere maior urgência quando vemos Brad Pitt correndo desesperadamente dessa multidão em um corredor estreito. Aqui, somos apresentados ao mob zombie.
Guerra Mundial Z é um eficiente filme de zumbis, promovendo inteligentes ideias para a franquia (a solução encontrada no final, é uma das mais verossímeis já vistas) e o início de uma promissora franquia. E assistam, nunca é demais o preparo para um apocalipse zumbi…
Old Sport: Leonardo DiCaprio é o Jay Gatsby definitivo
Considerado por muitos um dos “grande romances americanos”, O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald é uma obra requintada que se desenrola com uma sutileza ímpar. Baz Luhrmann, diretor desta glamourosa nova versão, jamais foi conhecido por sua sutileza (afinal, estamos falando do responsável por Romeu + Julieta e Austrália). Pode se dizer que o australiano é uma das pessoas menos indicadas para comandar a história, mas seu estilo grandiloquente – ainda que seja prejudicial em certos momentos – encontra espaço aqui.
A trama é ambientada na Nova York dos anos 2o (período popularmente conhecido como “Era do Jazz”, ou “Geração Perdida” para os menos saudosistas), centrando-se no aspirante a escritor Nick Carraway (Tobey Maguire). Enquanto recupera-se em um sanatório, Carraway compartilha por escrito suas experiências em meio a alta classe social e o mistério em torno do milionário Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), sujeito que esconde uma indestrutível paixão pela casada Daisy Buchanan (Carey Mulligan).
Década de 20 e, ainda assim, temos Jay-Z e Beyoncé na trilha sonora. Muitos críticos estrangeiros apontaram o dedo para a abordagem pop de Luhrmann à história, mas ao meu ver ela pontua com eficiência o clima de exaltação e festa da época – basta lembrar do Gatsby de 1974, com Robert Redford, que era silencioso demais para simbolizar algo como a Era do Jazz. É certo que a obra de Fitzgerald não é tão “aberta” quanto a direção de Luhrmann, que mais de uma vez pára para explicar detalhes que funcionavam por si só de forma sutil (três vezes, e por três personagens diferentes, é explicado o motivo pelas festas grandiosas do protagonista) e momentos mais agitados – ainda que um certo atropelamento seja tão memorável justamente por sua execução escandalosa e a escolha musical.
Também elogio Luhrmann por compreender a importância da luz verde na trama, transformando-a em um poderoso elemento visual e eficiente instrumento narrativo. O cais de Gatsby surge como abertura e encerramento do longa, como se o espectador realmente tivesse entrado e saído daquele universo. É interessante observar que, mesmo tendo sua amada Daisy em seus braços, o personagem continua a contemplar a luz esverdeada irradiando do outro lado da costa. Uma observação sutil que revela uma camada ainda mais complexa de Gatsby, que Leonardo DiCaprio consegue incorporar bem em uma performance multifacetada: seu Gatsby é ambicioso, mas vulnerável; otimista, mas impaciente.
O figurino vermelho de Isla Fisher contrasta com a tonalidade de seu lar
Impossível não falar sobre o impecável trabalho da figurinista e designer de produção Catherine Martin (que além de tudo isso, ainda é produtora e esposa do diretor). Vencedora de 2 Oscars por suas colaborações com Luhrmann, deve retornar à premiação por recriar fielmente locações e vestimentas da época e ainda oferecer-lhes um toque moderno: o vermelho burlesco predomina na caracterização da Myrtle Wilson de Isla Fisher, o que a torna uma figura assustadoramente contrastante com o cinza escuro e sujo de seu marido e a região onde habitam. A fotografia de Simon Duggan também se adequa com obediência às demandas narrativas, além da facilitar o elegante 3D do filme – que, curiosamente, fica mais profundo graças à artificialidade do greenscreen.
Mas se a artificialidade é um acerto nesse sentido, é o que o filme traz de pior quando analisamos seu roteiro e execução. Em diversos momentos, o filme assume uma postura maniqueísta diante de alguns personagens (o mecânico vivido por Jason Clarke ganha aqui um tratamento de monstro, e o ator nada pode fazer para torná-lo tridimensional) e faz uso. Apostando em velocidade, os montadores insistem em picotar até os mais simples diálogos com uma série de cortes que dificulta a fluência da cena e o desenvolvimento das ações; vide a conversa entre Nick e Gatsby no Rolls Royce amarelo, que surge como uma “metralhadora” de informações e ainda tornam evidentes algumas falhas na mixagem sonora daquele momento – e o que dizer da cena que tenta equilibrar uma conversa silenciosa com uma festa gigantesca?
Filme que certamente merece maior reconhecimento do que a de 1974, O Grande Gatsby impressiona pela produção e os experimentos visuais de Baz Luhrmann (com exceção dos embaraçosos textos sobre a tela). Mesmo que essa exuberância seja também um de seus deméritos, é uma adaptação que ao menos se arrisca a ser algo mais do que o básico. Afinal, de que adianta ser convencional em sua sexta adaptação para o cinema?
Obs: Mesmo que não tragam nada de significante, os créditos finais merecem ser vistos graças ao uso da canção “Together”, do The XX, que oferece um impacto maior após a conclusão do filme. Acredite, vale a pena.
Obs II: Esta crítica foi publicada após a cabine de imprensa do filme em São Paulo, no dia 27 de Maio.