Arquivo para 3D

| Perdido em Marte | Crítica

Posted in Aventura, Cinema, Críticas de 2015, Ficção Científica with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on 1 de outubro de 2015 by Lucas Nascimento

4.0

TheMartian
Matt Damon é Mark Watney

No início de sua carreira, Ridley Scott fez duas das maiores contribuições para o gênero da ficção científica, além de permanecerem como seus melhores trabalhos: Alien – O Oitavo Passageiro e Blade Runner: O Caçador de Andróides. Scott só retornou ao espaço com Prometheus, e agora com Perdido em Marte, filme que definitivamente não vai mudar o gênero ou o mundo, mas vai garantir entretenimento de primeira.

Adaptada do livro homônimo de Andy Weir, a trama começa com uma missão tripulada para o planeta Marte, contando com os astronautas Mark Watney (Matt Damon), Melissa Lewis (Jessica Chastain), Rick Martinez (Michael Peña), Beth Johanssen (Kate Mara), Alex Vogel (Aksel Hennie) e Chris Beck (Sebastian Stan). Após uma violenta tempestade, Watney é deixado para trás e dado como morto, enquanto a tripulação retorna para a Terra. Bom, surpresa, Watney está vivo e precisará encontrar um jeito de sobreviver sozinho no planeta até que a NASA possa resgatá-lo.

É mais uma história solitária e desesperada de sobrevivência, só que não. O roteiro de Drew Goddard não foca-se apenas na situação de Mark, e este não é o sujeito mais desesperado que estamos acostumado. Watney é um botanista otimista e que procura manter o bom humor (ainda que em diversos momentos, o desespero bata à porta), e Goddard traz soluções críveis para as muitas adversidades enfrentadas pelo protagonista, desde uma improvisada plantação de batatas com um fertilizante naturalíssimo ou o uso de um alfabeto nerd para estabelecer uma lenta comunicação. Claro, a narrativa depende de muitos Deus Ex Machina para funcionar, principalmente quanto à aparição quase súbita de sondas e módulos terrestres que já estavam em Marte, mas a boa atuação de Damon faz valer os eventuais exageros.

As cenas na Terra não têm o mesmo ânimo das do protagonista marciano, mas funcionam pela abordagem delicada dos cientistas e executivos. Jeff Daniels se sai bem como o diretor da NASA, sujeito linha dura e que não se incomoda em mentir a fim de alcançar um objetivo (como ocultar da tripulação a notícia da sobrevivência de Mark), mas que revela um limite moral ao se recusar a arriscar a segurança da tripulação, quando lhe é proposto que esta retorne para salvar Mark. O elenco estelar desempenha bem seus papéis, ainda que poucos tenham a chance de realmente se destacar a nível de prêmios, com Donald Glover e Chiwetel Ejifor tendo os personagens mais adoráveis. A tripulação não tem muita personalidade, com Michael Peña fazendo o obrigatório alívio cômico e Jessica Chastain cria uma comandante forte, mas não muito desenvolvida. E me disseram que Kristen Wiig estava no filme, mas só a vi umas duas vezes…

Tecnicamente, é um longa impecável. A fotografia de Darius Wolski captura a beleza das paisagens marcianas, fazendo também um belo uso do 3D, graças a planos bem abertos que garantem profundidade e um uso acertado dos efeitos visuais: a tempestade que assola os personagens no primeiro ato fornece uma imersão impressionante. E ainda que o filme tenha um ritmo divertido e vívido (benefícios da ótima montagem de Pietro Scalia e da trilha musical com disco music), Scott nos lembra dos velhos tempos ao trazer um ou outro momento mais intenso, como uma auto-cirurgia e o espetacular clímax. E que coma a primeira batata marciana quem não se arrepiou quando as letras do título sumiram ao estilo Alien…

Perdido em Marte é um filme que surpreende pelo otimismo e o bom humor, e que deve despertar o interesse de muitos em exploração espacial. Ridley Scott pode errar bastante, mas compensa esperar por um projeto certeiro como este.

Obs: Reforço, o 3D vale muito a pena. 

| Poltergeist: O Fenômeno | Crítica

Posted in Aventura, Cinema, Críticas de 2015, Terror with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on 21 de maio de 2015 by Lucas Nascimento

2.0

Poltergeist
Kennedi Clements assume o papel icônico de Heather O’Rourke

Quando parei para assistir ao Poltergeist original de 1982, me surpreendi com a capacidade do filme em combinar com maestria o gênero do terror com um de aventura para toda a família. O filme dirigido por Tobe Hooper e co-escrito por Steven Spielberg era uma pérola oitentista, detentora de um clima único daquele período saudoso. Infelizmente, o novo Poltergeist: O Fenômeno falha feio ao se mostrar relevante.

A trama é exatamente igual a do filme original (e de 80% dos filmes do gênero), começando quando a família Bowen (Sam Rockwell, Rosemarie DeWitt, Saxon Sharbino, Kyle Catlett e Kennedi Clements) se muda para uma nova casa, graças a dificuldades financeiras. Estranhos acontecimentos passam a ocorrer, especialmente com a caçula Madison, que acaba sendo transportada por espíritos para uma outra dimensão, acessível por aparelhos eletrônicos. Desesperada, a família recorre a investigadores paranormais.

Durante toda a projeção, só pensava numa coisa: já vi isso, e já vi melhor. Não só pela óbvia comparação ao filme de 1982, mas também em perceber como esse Poltergeist empalidece diante dos melhores exemplares contemporâneos do gênero, especialmente os filmes de James Wan ou até mesmo o sólido remake de A Morte do Demônio, que adotava o espírito e atualizava a técnica. Aqui, o diretor Gil Kenan (estreando no live action após A Casa Monstro e Cidade das Sombras) demonstra domínio de alguns travellings digitais inventivos e bons movimentos de câmera, mas não sabe se dirige um terror ou uma comédia – as piadinhas são tão óbvias, que olha…

Nem o terror é acertado, já que Kenan abusa do design de som para criar jump scares artificiais provocados por ações comuns, como uma mão no ombro ou inocentes batidas em portas. Já quando se arrisca a recriar duas das ameaças mais icônicas do original (o galho de árvore e o palhaço sinistro), o diretor parece não saber o que faz, trazendo efeitos digitais sem graça e uma “briga” entre o garoto e o palhaço que chega a ser risível. Mas admito que o diretor acerta na elaboração visual da dimensão “poltergeist” durante o clímax (composta por incontáveis “zumbis fantasmas” que impressionam em seu design), que também funciona muito bem em 3D.

O tom fica no balanço entre humor e terror, mas o espírito aventureiro para toda a família do original é esquecido, já que nenhum dos personagens tem o mínimo de carisma para criar um interesse por parte do espectador. Sam Rockwell é um bom ator que funciona bem no piloto automático, mas a esposa vivida por Rosemarie DeWitt é desinteressante e todos os três filhos não convencem (com exceção da jovem Kennedi Clements, que assume com competência o papel da falecida Heather O’Rourke). Só Jared Harris que consegue acrescentar um pouco de charme a seu investigador Carrigan Burke, ainda que o personagem seja só mais um arquétipo batido do gênero. Poxa, o original tinha uma caça-fantasmas anã, sem falar na poderosa crítica ao preconceito ianque contra os nativo-americanos. Este aqui? Nada de inovador, a não ser um bocado de aparelhos da Apple.

Poltergeist: O Fenômeno é uma obra que não parece se decidir entre o terror e o humor, falhando miseravelmente em ambos. Pode até trazer um visual elaborado, mas não há nada aqui que justifique a visita ou sua existência, ainda mais quando o original está aí e envelheceu tão bem.

| No Limite do Amanhã | Crítica

Posted in Ação, Cinema, Críticas de 2014, Ficção Científica with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 30 de maio de 2014 by Lucas Nascimento

4.0

EDGE OF TOMORROW
Tom Cruise e Emily Blunt em exoesqueletos robóticos. Quer mais?

Tom Cruise é implacável. Outrora um rostinho bonito adorado por todos, o cara cismou de virar ator de ação, e tem se mostrado muito interessado pela ficção científica nos últimos anos. Uns não aguentam mais ver sua cara, mas vira e mexe o ator consegue entregar um trabalho surpreendentemente bom. Foi assim com Missão: Impossível – Protocolo Fantasma em 2011, e o mesmo se repete com No Limite do Amanhã, acertadíssimo filme de Doug Liman que brinca com o gênero como não víamos há um bom tempo.

A trama é inspirada na HQ All You Need is Kill, de Hiroshi Sakurazaka, e traz uma guerra entre a humanidade e uma raça alienígena superior que vai levando a melhor no conflito. Nesse cenário, o assessor público militar Cage (Tom Cruise) se vê lançado em uma batalha decisiva para conter a ameaça, mas se surpreende quando encontra-se em um loop temporal: ao morrer, acorda um dia antes da invasão, e assim sucessivamente.

Basicamente, é um Feitiço do Tempo (aquele do Bill Murray) com alienígenas e exoesqueletos metálicos. O roteiro de Christopher McQuarrie, e dos irmãos Jez e John-Henry Butterworth é eficaz ao misturar diversos elementos diferentes na trama, que salta eficientemente entre a ficção científica, a ação (especialmente a de guerra, com a invasão central remetendo diretamente ao Dia D da Segunda Guerra Mundial) e até acertadas pitadas de humor – especialmente quando conhecemos o personagem de Cruise, um sujeito sem experiência de combate, permitindo que o ator trabalhe sua vulnerabilidade. A mistura funciona bem e empolga nos rápidos 117 minutos de projeção, e Liman já provou sua capacidade de comandar boas cenas de ação, tanto em A Identidade BourneSr. & Sra. Smith quanto no irregular Jumper.

Mas o que realmente nos faz amar esse filme, é a estrutura básica de sua narrativa. Como um videogame, o personagem de Cruise vai morrendo e acordando novamente por quase toda a trama. Serve para boas piadas no início (com as diferentes mortes que Cage sofre) e depois domina completamente a trama quando o protagonista começa a usar sua anomalia a favor dos humanos na guerra, e a montagem absolutamente brilhante de James Herbert é ágil ao economizar tempo para retratar alguns avanços da história (mesmo que vejamos uma cena pela primeira vez, Cage revela que já viveu o evento inúmeras outras vezes), mantendo o filme em um ritmo frenético e com boas surpresas. Outro fator inesperado é Emily Blunt: quem diria que a linda atriz britânica daria uma baita heroína de ação, deixando o veterano Cruise no chinelo ao retratar uma militar notória, durona, sexy… e, ainda assim, emocionalmente frágil.

Se há um fator a se reclamar em No Limite do Amanhã é seu terceiro ato. Dentro da lógica narrativa, seria inevitável que a trama tomasse o rumo escolhido, mas também é impossível não perceber a notável queda de qualidade na transição da ficção científica para a ação genérica, no ponto em que os humanos vão encontrando uma forma de erradicar de vez os alienígenas. Felizmente, encontra uma resolução digna e sensata dentro de sua proposta (ainda que eu imaginasse algo diferente, mas enfim).

No Limite do Amanhã é uma agradável surpresa. Entretenimento blockbuster de primeira, explora com habilidade um dos gêneros mais complicados e fascinantes do cinema, soando quase como um sopro de originalidade em um mercado dominado por super-heróis. Sério, é uma sensação muito satisfatória.

Obs: Não assisti ao filme em 3D, mas como é convertido, não deve valer o preço a mais.

O novo filme de Robert Zemeckis

Posted in Notícias with tags , , , , , , , , , on 6 de maio de 2014 by Lucas Nascimento

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Foi só hoje que de fato me debrucei sobre o próximo trabalho do diretor Robert Zemeckis (que retornou ao live action com o eficiente O Voo, em 2012). Zemeckis cuida no momento de To Reach the Clouds, uma adaptação em 3D sobre a vida do equilibrista Philippe Petit, que foi retratado no documentário oscarizado O Equilibrista, ganhando as feições de Joseph Gordon-Levitt.

Petit ficou famoso mundialmente por andar em uma corda bamba entre as duas torres do World Trade Center, evento que deve ser um dos pontos altos da produção.

To Reach the Clouds tem estreia marcada para 2 de Outubro de 2015.

| Need for Speed – O Filme | Nem Aaron Paul salva adaptação de game

Posted in Ação, Cinema, Críticas de 2014 with tags , , , , , , , , , , , , , , , on 16 de março de 2014 by Lucas Nascimento

2.0

NeedforSpeed
Yeah, bitch! Fast cars!

De todos os milhares de títulos de videogames existentes, Need for Speed é certamente um dos que dificilmente renderia uma boa adaptação. Não sou expert em jogos de corrida, mas a franquia da EA Games nunca foi lembrada por sua história, e este é um elemento irrelevante no caso – já que o único propósito da série é entreter os jogadores com suas corridas. É mais ou menos o que acontece com essa adaptação cinematográfica, mas nem a ação é capaz de valer a experiência.

A trama nos apresenta ao habilidoso piloto Tobey Marshall (Aaron Paul, o Jesse Pinkman de Breaking Bad), que serve pena na prisão após ser injustamente acusado pelo homicídio culposo de seu melhor amigo. Em liberdade, Tobey reúne sua antiga equipe para planejar uma vingança contra o verdadeiro assassino (Dominic Cooper), na forma de uma grandiosa corrida clandestina.

Bem, não se pode esperar muito apuro intelectual ou um roteiro incrível de uma obra do tipo (mas a esperança nunca morre), vide a historinha risível que o roteiro do estreante George Gatins sofre para contar: motivações bobinhas, coadjuvantes forçadamente reduzidos a alívios cômicos intrusivos (ainda que o piloto vivido por Scott Mescudi se destaque por representar a típica figura de ajuda onipresente comumente encontrada em games) e um antagonista absurdamente estúpido. Dentre todos os erros, o maior deles certamente é que o diretor Scott Waughs leva tudo a sério demais. A franquia Velozes e Furiosos é longe de ser perfeita, mas funciona – e diverte – pois seus realizadores sabem exatamente o tipo de produção em que estão envolvidos. Need for Speed – O Filme chega até a ser chato na metade da projeção.

Elefante da sala devidamente retirado, vamos aos motivos para que alguém compraria um ingresso para o filme: carros e, no meu caso, Aaron Paul. O último se sai bem e traz carisma de sobra num papel típico de herói de ação, e ainda tem a oportunidade de brilhar em um ou dois momentos mais “dramáticos”. Já nas cenas que retratam a necessidade por velocidade de seus protagonistas, Waughs é habilidoso com suas escolhas de câmera (especialmente naquela que emula a tela de um game ao posicioná-la no painel de um veículo ou em outra fixada em um carro enquanto este rodopia pelo ar) e a sonoplastia traduz com eficiência os poderosos motores dos Mustangs, Lamborghinis, entre outros, envenenados. Nada revolucionário, mas que ao menos distrai.

Elefante da sala devidamente retirado, vamos aos motivos para que alguém compraria um ingresso para o filme: carros e, no meu caso, Aaron Paul. O último se sai bem e traz carisma de sobra num papel típico de herói de ação, e ainda tem a oportunidade de brilhar em um ou dois momentos mais “dramáticos”. Já nas cenas que retratam a necessidade por velocidade de seus protagonistas, Waughs é habilidoso com suas escolhas de câmera (especialmente naquela que emula a tela de um game ao posicioná-la no painel de um veículo ou em outra fixada em um carro enquanto este rodopia pelo ar) e a sonoplastia traduz com eficiência os poderosos motores dos Mustangs, Lamborghinis, entre outros, envenenados. Nada inovador, mas que ao menos distrai.

Capaz de despertar genuína empolgação com músicas incidentais como um cover bacana de Jamie N Commons para “All Along the Watchtower” e “Roads Untraveled”, do Linkin Park, a verdade é que caso Need for Speed – O Filme fosse mais um exemplar da série de games homônima, eu indubitavelmente “pularia” todas as cutscenes para chegar direto à ação. O problema nessa adaptação cinematográfica fica na impossibilidade de se fugir dos momentos entediantes – a menos que você seja o projecionista – e outra pessoa está “jogando” no seu lugar.

Obs: O 3D convertido é um dos piores que eu já vi. Não sei se foi só a minha sessão, mas a imagem estava incomodamente escura.

Obs II: Há uma curta cena extra logo no começo dos créditos finais.

Obs III: Três personagens diferentes usam a palavra “bitch”, e o de Aaron Paul não é um deles…

| Jurassic Park 3D | Revisitando um dos grandes filmes de Spielberg

Posted in Aventura, Cinema, Críticas de 2013 with tags , , , , , , , , , , , , , on 24 de agosto de 2013 by Lucas Nascimento

5.0

JurassicPark3D
A apresentação do T-Rex: aula de cinema

Quando era criança, Jurassic Park – Parque dos Dinossauros era um de meus filmes preferidos. Ao ter a notícia de que o filme seria relançado nos cinemas no formato 3D, evitei ao máximo assistir ao filme novamente (algo que não fazia há uns 5-6 anos até a estreia nos cinemas, neste ano). Com isso, voltei a ser aquela criança cujo queixo chegava até o chão ao contemplar essa maravilhosa aventura de Steven Spielberg e seus espetaculares dinossauros.

A trama, você bem sabe, envolve a criação de um parque temático com dinossauros reais. Graças à descoberta de um mosquito fossilizado, o milionário John Hammond (Richard Attenborough) torna possível a clonagem de uma amostra de sangue do período jurássico e, consequentemente, a criação genética de dinossauros. Acompanhado de dois paleontólogos (Sam Neill e Laura Dern) e de um cientista cool (Jeff Goldblum), Hammond promove uma visita ao local – que, obviamente, sai do controle.

Lançado originalmente em 1993, Jurassic Park continua impressionante. A mistura de efeitos digitais com animatrônicos (do falecido mestre Stan Winston) é perfeita e, mesmo 20 anos depois e com tecnologias superiores, faz jus ao espetáculo: a antológica primeira aparição do imponente T-Rex permanece uma aula de cinema acerca da criação do suspense (nada mais justo, já que é comandada pelo gênio responsável por Tubarão) e, confesso, por alguns momentos acreditei que aquilo era real – é o poder da magia da Sétima Arte. Ainda sobre execução, é triste olhar Jurassic Park e perceber que Steven Spielberg não faz mais filmes assim: o cineasta agora parece mais preocupado com dramas e biografias e, mesmo que não sejam de qualidade ruim, ficam abaixo do talento do diretor em criar imbatíveis tons de aventura e humor.

John Williams segue a mesma linha. Um dos maiores compositores musicais de todos os tempos, tem aqui um de seus mais icônicos temas (convenhamos, o cara manja quando o assunto é criação de temas icônicos) e faixas que ajudam a maravilhar as espetaculares imagens. E tais imagens ficam absurdamente bem ressaltadas na conversão em 3D do filme, que chega a chocar de tão eficiente – ficando até melhor do que aquela feita no relançamento de Titanic, supervisionada pelo próprio James Cameron.

Certamente um dos melhores filmes da carreira de Steven Spielberg, Jurassic Park – Parque dos Dinossauros é uma obra divertidíssima e que merece ser revisitada nas telonas novamente. Até mesmo seu diretor poderia fazê-lo, e lembrar-se de como seu talento para o gênero pode ser divino.

| Círculo de Fogo | Guillermo Del Toro fica gigante

Posted in Ação, Aventura, Cinema, Críticas de 2013, Drama with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on 8 de agosto de 2013 by Lucas Nascimento

3.5

Pacific-Rim
Cadê o Michael Bay agora, hein? Os robôs de Guillermo Del Toro impressionam pela escala

Quando comecei a me inteirar sobre o material temático de Círculo de Fogo, que prometia batalhas homéricas entre monstros colossais e robôs igualmente colossais, não pude evitar de temer pelo monte de excremento que julgava ser este filme. No entanto, nunca posso me dar ao erro de esquecer quem é o artista por trás das câmeras: Guillermo Del Toro.

A trama parte de um roteiro original de Travis Beacham e do próprio Del Toro, mas com clara inspiração na cultura japonesa de monstros gigantes (o termo “Kaiju” é utilizado com frequência), onde a Terra encontra-se em constante ataque de criaturas que emergem de uma fenda no oceano pacífico (região real que atende pelo tal do Círculo, ou Anel, de Fogo do título, que no original é Pacific Rim) e que necessitam de poderosos robôs gigantes operados por humanos para defender as grandes cidades.

Em outras palavras, ROBÔS GIGANTES ARREBENTANDO MONSTROS GIGANTES. E só o uso do caps lock para ajudar a ilustrar a grandeza visual que é Círculo de Fogo. Todas as cenas de ação impressionam pela escala e o cuidado em retratar as gigantes armaduras de forma a ilustrar o peso destas (ao contrário daqueles vistos em Transformers, aqui os robôs têm seus movimentos muito mais demorados) e também a diversidade em seu visual. Depois de O Labirinto do Fauno e Hellboy II – O Exército Dourado, não achava que Del Toro continuaria me impressionando com sua imensa criatividade ao elaborar distintas criaturas: seja no design dos Jeigers ou dos detalhadíssimos Kaijus, a equipe de direção de arte do diretor acerta em cheio.

E da mesma forma que os efeitos visuais da ILM dão vida com maestria a todos esses elementos, o roteiro de Beacham e Del Toro é hábil ao criar um mundo afetado pela presença destes. Um dos mais memoráveis exemplos no Hannibal Chau de Ron Perlman, um excêntrico comerciante de “partes” de Kaijus em um mercado negro, personagem que certamente foi tão divertido para a dupla escrever como foi para o ator interpretá-lo. Infelizmente, o personagem de Perlman é a única figura memorável do filme, já que todos os outros não passam de criaturas estereotipadas e arquétipas; algo que é bom quando diverte (vide os cientistas “malucos” vividos por Charlie Day e Burn Gorman), mas que aborrece quando somos forçados a engolir clichês do tipo “o parente próximo que morreu” ou, deus me livre, o de “relação problemática com o pai”. Além disso, o que dizer da Mako Mori de Rinko Kikuch0i, que apresenta nociva dificuldade em controlar um Jeiger com sua mente (até colocando em risco as vidas de todos os seus colegas em sua primeira experiência), mas que o roteiro o soluciona ao simplesmente trazer um dos personagens dizendo que “A primeira vez é sempre difícil”?

Mas mesmo com diversos problemas de roteiro, Círculo de Fogo oferece uma experiência contagiante graças ao tom adotado pelo cineasta: a de que tudo isto não é tão das produções de monstros gigantes tão populares no Japão. Diversão garantida.

Obs: Assista ao filme na maior tela possível. O 3D não é nada mal.

Obs II: Há uma hilária cena durante os créditos finais.

| Guerra Mundial Z | Sai de baixo, é o mob zombie

Posted in Aventura, Cinema, Críticas de 2013, Suspense with tags , , , , , , , , , , , , , , , on 28 de junho de 2013 by Lucas Nascimento

3.5

WorldWarZ
Brad Pitt larga o negócio de matar nazistas e entra para o de matar zumbis

Zumbis estão em alta. O sucesso da série de tv americana The Walking Dead (que eu assistiria, não fosse tão tediosa) trouxe de volta ao imaginário pop as criaturas moribundas e sedentas por carne humana, rendendo diferentes abordagens e encarnações para seu perfil tão icônico. Guerra Mundial Z junta tudo isso e ainda traz novos elementos para o gênero, resultando em um eficiente thriller.

A trama é livremente adaptada do livro de Max Brooks (que também publicou divertidíssimo Guia de Sobrevivência a Zumbis) por Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard e Damon Lindelof, centrando-se no investigador da ONU Gerry Lane (Brad Pitt), que é forçado a auxiliar a agência quando uma cataclísmica infestação zumbi misteriosamente assola 5% da população mundial.

Da premissa arquétipa até a proliferação mortal sem explicações acerca de sua origem (como dita a tradição do bom e velho George Romero), Guerra Mundial Z acerta ao economizar precioso tempo evitando cair na “didática” do gênero. Em menos de 30 minutos de projeção, o diretor Marc Forster já nos apresenta de cara às ameaças, introduz com inteligência suas características – através de uma sequência que revela a transformação de um cidadão em zumbi sendo acompanhado pela contagem de tempo de Gerry – e coloca os personagens no meio da ação; dando-lhes até armas de fogo. Até mesmo a palavra “zumbi” é constantemente proferida pelos personagens o que revela, graças às reações céticas dos militares ao ouví-la, a sutil possibilidade de estes habitarem um universo onde mortos-vivos fazem parte da cultura pop.

Forster é habilidoso ao retratar a ambientação da história e seu crescente senso de alarmismo global (que passa por uma Filadélfia infestada de automóveis até uma Jerusalém infestada de multidões) ao longo de suas 2 horas de projeção. O diretor também sabe quando o filme requer um toque de aventura, mas jamais se esquece do suspense que seus antagonistas são capazes de provocar (a sequência no terceiro ato é soberba nesse quesito graças à sua condução silenciosa e montagem equilibrada) ou do drama – aqui, uma amputação em offscreen é chocante graças à sua imprevisibilidade, e a aparente naturalidad” com que ocorre. No entanto, Forster demonstra um talento inversamente proporcional nas cenas de ação (algo que já tinha provado com 007 – Quantum of Solace), apostando na câmera tremida e nos cortes em excesso; algo que funciona apenas para conferir maior “realismo” às criaturas digitais ou para aumentar a dor de cabeça resultante do descartável 3D convertido (que só é válido para exarcebar os muitos sustos).

Impressiona aqui a desumanização presente nas criaturas canibais: em um esperto comentário social (afinal, os grandes filmes do gênero sempre trazem uma mensagem em suas entrelinhas) acerca da superpopulação do planeta, os zumbis de Marc Forster são aglomerados de pessoas que atingem o absurdo ao se amontoarem até formar uma “montanha” de seres vivos. É visualmente assustador, e – mesmo sendo “light” em sua quantidade de violência – confere maior urgência quando vemos Brad Pitt correndo desesperadamente dessa multidão em um corredor estreito. Aqui, somos apresentados ao mob zombie.

Guerra Mundial Z é um eficiente filme de zumbis, promovendo inteligentes ideias para a franquia (a solução encontrada no final, é uma das mais verossímeis já vistas) e o início de uma promissora franquia. E assistam, nunca é demais o preparo para um apocalipse zumbi…

| O Grande Gatsby | Baz Luhrmann apresenta o Fitzgerald Extravaganza

Posted in Cinema, Críticas de 2013, Drama, Indicados ao Oscar, Romance with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , on 4 de junho de 2013 by Lucas Nascimento

3.5

TheGreatGatsby[
Old Sport: Leonardo DiCaprio é o Jay Gatsby definitivo

Considerado por muitos um dos “grande romances americanos”, O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald é uma obra requintada que se desenrola com uma sutileza ímpar. Baz Luhrmann, diretor desta glamourosa nova versão, jamais foi conhecido por sua sutileza (afinal, estamos falando do responsável por Romeu + Julieta e Austrália). Pode se dizer que o australiano é uma das pessoas menos indicadas para comandar a história, mas seu estilo grandiloquente – ainda que seja prejudicial em certos momentos – encontra espaço aqui.

A trama é ambientada na Nova York dos anos 2o (período popularmente conhecido como “Era do Jazz”, ou “Geração Perdida” para os menos saudosistas), centrando-se no aspirante a escritor Nick Carraway (Tobey Maguire). Enquanto recupera-se em um sanatório, Carraway compartilha por escrito suas experiências em meio a alta classe social e o mistério em torno do milionário Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), sujeito que esconde uma indestrutível paixão pela casada Daisy Buchanan (Carey Mulligan).

Década de 20 e, ainda assim, temos Jay-Z e Beyoncé na trilha sonora. Muitos críticos estrangeiros apontaram o dedo para a abordagem pop de Luhrmann à história, mas ao meu ver ela pontua com eficiência o clima de exaltação e festa da época – basta lembrar do Gatsby de 1974, com Robert Redford, que era silencioso demais para simbolizar algo como a Era do Jazz. É certo que a obra de Fitzgerald não é tão “aberta” quanto a direção de Luhrmann, que mais de uma vez pára para explicar detalhes que funcionavam por si só de forma sutil (três vezes, e por três personagens diferentes, é explicado o motivo pelas festas grandiosas do protagonista) e momentos mais agitados – ainda que um certo atropelamento seja tão memorável justamente por sua execução escandalosa e a escolha musical.

Também elogio Luhrmann por compreender a importância da luz verde na trama, transformando-a em um poderoso elemento visual e eficiente instrumento narrativo. O cais de Gatsby surge como abertura e encerramento do longa, como se o espectador realmente tivesse entrado e saído daquele universo. É interessante observar que, mesmo tendo sua amada Daisy em seus braços, o personagem continua a contemplar a luz esverdeada irradiando do outro lado da costa. Uma observação sutil que revela uma camada ainda mais complexa de Gatsby, que Leonardo DiCaprio consegue incorporar bem em uma performance multifacetada: seu Gatsby é ambicioso, mas vulnerável; otimista, mas impaciente.

TheGreatGatsby
O figurino vermelho de Isla Fisher contrasta com a tonalidade de seu lar

Impossível não falar sobre o impecável trabalho da figurinista e designer de produção Catherine Martin (que além de tudo isso, ainda é produtora e esposa do diretor). Vencedora de 2 Oscars por suas colaborações com Luhrmann, deve retornar à premiação por recriar fielmente locações e vestimentas da época e ainda oferecer-lhes um toque moderno: o vermelho burlesco predomina na caracterização da Myrtle Wilson de Isla Fisher, o que a torna uma figura assustadoramente contrastante com o cinza escuro e sujo de seu marido e a região onde habitam. A fotografia de Simon Duggan também se adequa com obediência às demandas narrativas, além da facilitar o elegante 3D do filme – que, curiosamente, fica mais profundo graças à artificialidade do greenscreen.

Mas se a artificialidade é um acerto nesse sentido, é o que o filme traz de pior quando analisamos seu roteiro e execução. Em diversos momentos, o filme assume uma postura maniqueísta diante de alguns personagens (o mecânico vivido por Jason Clarke ganha aqui um tratamento de monstro, e o ator nada pode fazer para torná-lo tridimensional) e faz uso. Apostando em velocidade, os montadores insistem em picotar até os mais simples diálogos com uma série de cortes que dificulta a fluência da cena e o desenvolvimento das ações; vide a conversa entre Nick e Gatsby no Rolls Royce amarelo, que surge como uma “metralhadora” de informações e ainda tornam evidentes algumas falhas na mixagem sonora daquele momento – e o que dizer da cena que tenta equilibrar uma conversa silenciosa com uma festa gigantesca?

Filme que certamente merece maior reconhecimento do que a de 1974, O Grande Gatsby impressiona pela produção e os experimentos visuais de Baz Luhrmann (com exceção dos embaraçosos textos sobre a tela). Mesmo que essa exuberância seja também um de seus deméritos, é uma adaptação que ao menos se arrisca a ser algo mais do que o básico. Afinal, de que adianta ser convencional em sua sexta adaptação para o cinema?

Obs: Mesmo que não tragam nada de significante, os créditos finais merecem ser vistos graças ao uso da canção “Together”, do The XX, que oferece um impacto maior após a conclusão do filme. Acredite, vale a pena.

Obs II: Esta crítica foi publicada após a cabine de imprensa do filme em São Paulo, no dia 27 de Maio.