Querida, encolhi a gente: Paul Rudd experimenta o traje
Já são tantos filmes lançados pela Marvel Studios nos últimos 7 anos que, como apontei em meu texto de Vingadores: Era de Ultron, a fórmula e seus personagens já começam a demonstrar sinais de ferrugem. São 5 filmes com Robert Downey Jr, 4 com Chris Evans e Chris Hemsworth… Foi um alívio quando Guardiões da Galáxia trouxe novos e refrescantes elementos no ano passado, e a sensação é similar quando termina a sessão de Homem-Formiga: algo familiar, porém original.
A trama começa quando o ladrão Scott Lang (Paul Rudd) é solto após dois anos numa prisão de São Francisco. Buscando meios de se aproximar de sua filha, ele aceita participar de um golpe para invadir o cofre do milionário aposentado Hank Pym (Michael Douglas). O item em questão é o traje de encolhimento do Homem-Formiga, o qual Lang adota sob a tutela de Pym, que o seleciona para ajudá-lo num plano para impedir o ambicioso Darren Cross (Corey Stoll) de roubar sua fórmula.
Mesmo que a estrutura básica permaneça a mesma, há diversos pontos inovadores aqui. O roteiro de… Bem, é uma situação confusa pois, como bem sabem, Edgar Wright e seu colega Joe Cornish estiveram ligados ao projeto desde 2008, antes de serem dispensados após “desavenças criativas” com o mandachuva Kevin Feige. Os créditos de Wright e Cornish foram mantidos, mas Adam McKay e o próprio Paul Rudd ajudaram a reescrever e estruturar o roteiro para se encaixar no padrão que a Marvel vem montando no cinema. Fica difícil apontar quem fez o quê ali (mesmo que as piadinhas infantilóides associadas aos outros filmes do estúdio sejam facilmente identificadas aqui), mas o texto já merece créditos por seguir a linha de Guardiões da Galáxia ao se focar em um protagonista que claramente é um criminoso.
Claro, um criminoso de bom coração, adepto de uma filosofia Robin Hood que só quer ver sua filha no fim do dia, mas ainda assim, um personagem mais complexo do que o costume; e Rudd se sai muito bem aqui, seja no lado mais cômico (afinal, é sua especialidade) quanto no mais maduro, sendo um contraponto divertido para o carrancudo Hank Pym de Michael Douglas (que, em certo ponto, ganha também um dos melhores rejuvenescimentos digitais que eu já vi). Homem-Formiga também é eficiente como um exemplar do subgênero heist, utilizando da ágil montagem de Dan Lebental e Colby Parker Jr, e também de uma divertida sincronia labial promovida pelo personagem de Michael Peña, quando este explica as diversas conversas paralelas que o levaram a certo plano. Mais importante: o filme também não se revela dependente de fazer referências masturbatórias aos Vingadores, limitando-se a uma ou duas referências, além de uma participação que avança a trama de forma inteligente – e empolgante, digamos.
O Jaqueta Amarelo de Corey Stoll
Ainda que longe do dinamismo vibrante de Wright, o diretor Peyton Reed (Sim Senhor!) faz um trabalho decente, merecendo créditos pela condução das excelentes sequências na qual o protagonista encontra-se encolhido. Os efeitos visuais quase as transformam em animações, mas funcionam à medida em que o longa se desenrola e também por conseguirem transmitir com sucesso a visão do herói e seu senso de maravilhamento, a grandiosidade de objetos pequenos e saber explorar visualmente os cenários; a primeira cena de encolhimento deve entrar para a lista de melhores momentos do gênero, facilmente, enquanto uma determinada descoberta durante o último ato impressiona pela ousadia, ainda que falhe ao explorá-la por completo. A escolha de um vilão cujos planos são mais simples do que o velho “vamos destruir o mundo” também ajuda, adicionando também o ótimo Corey Stoll e seu elaborado uniforme do Jaqueta Amarela.
Mesmo que eu tenha orgasmos em imaginar a versão de Edgar Wright, este Homem-Formiga revela-se uma das melhores produções da Marvel Studios, que acerta ao apresentar novas personalidades e fugir de fórmulas prontas, ao mesmo tempo em que entrega um satisfatório filme de origem de super-herói à moda antiga.
Obs: O 3D convertido não acrescenta absolutamente nada.
Obs II: Você sabe o procedimento… Duas cenas extras, durante e após os créditos.