Emilia Clarke e Arnold Schwarzenegger: Pai e filha (?)
A jornada da franquia Exterminador do Futuro é quase tão turbulenta e povoada de destinos incertos quanto a de seus personagens. Depois de dois excelentes filmes de James Cameron, a franquia se viu navegando de estúdio para estúdio, culminando no eficiente A Rebelião das Máquinas e o competente A Salvação com a Warner, e agora com Gênesis na Paramount, que planeja um reboot antes que os direitos da franquia retornem para Cameron em 2019. Infelizmente, o filme de Alan Taylor é mais uma tentativa frustrada de espremer suco desse fruto já esgotado.
O roteiro é assinado por Laeta Kalogridis (Ilha do Medo) e Patrick Lussier (Fúria sobre Rodas), e começa com a Resistência de John Connor (Jason Clarke) numa batalha decisiva contra as máquinas da Skynet. Numa ação desesperada, as máquinas enviam um Exteminador de volta no tempo para eliminar a mãe do líder, Sarah Connor (Emilia Clarke), e este responde mandando o soldado Kyle Reese (Jai Courtney), para protegê-la no passado. Lá, Reese descobre uma realidade alternativa onde Sarah é protegida por um Exterminador envelhecido (Arnold Schwarzenegger), e juntos elaboram um plano para evitar o Julgamento Final.
Mesma história de sempre, mas com uma diferença vital aqui: não faz sentido. O macarrônico texto de Kalogridis e Lussier se perde em uma bagunça colossal que tenta servir como continuação, prequel e reboot, mas ao contrário do que fez J.J. Abrams com seu ótimo Star Trek (que também se debruçava no conceito de viagem no tempo), Gênesis ignora qualquer lógica ao trazer uma narrativa confusa e que explora preguiçosamente a ideia de realidades alternativas, simplesmente jogando elementos dos filmes anteriores (o que o T-1000 faz em 1984? O que causa a mudança de linha narrativa? Quem envia o Guardião de Schwarzenegger?) e os insultando com efeitos visuais excessivos e cenas de ação pouco inspiradas – ainda que o T-1000 permaneça uma figura interessante. O diretor Alan Taylor até se sai bem ao emular o estilo de Cameron nas batalhas futuristas e quando opta por recriar quadro a quadro o início do filme original, mas jamais cria algo verdadeiramente novo, deixando o CGI dominar a ação.
Há outros elementos aqui que merecem ser discutidos, e que infelizmente a campanha de marketing errou ao revelá-los em trailers e cartazes de divulgação: a identidade do novo antagonista, e como isso envolve o personagem de John Connor. É uma ideia arriscada e que revela-se estúpida do ponto de vista da Skynet, já que seu novo modelo de Exterminador parece simplesmente estar ali por falta de ideia, não apresentando utilidade dentro da história. Diante tantas confusões, o fato de Arnold Schwarzenegger dar vida a um andróide capaz de envelhecer é o que menos incomoda, e vale apontar que o veterano astro de ação ainda consegue manter seu carisma e entregar divertidos one liners (“Fiquei preso no trânsito” se desponta como a melhor).
Já Emilia Clarke infelizmente entrega uma Sarah Connor menos durona, e confesso que em muitos momentos a atriz beira o overacting ao exagerar nas caretas, sem falar na total falta de química com Jai Courtney, que carrega aqui o manto de protagonista da história. O ator australiano se esforça, mas não tem nem o físico nem a presença de Michael Biehn do original, mas convence em suas cenas com o John Connor de Jason Clarke, que surge muito bem aqui. Ah, e J.K. Simmons aparece aqui e ali… Sem um motivo aparente.
O Exterminador do Futuro: Gênesis representa o ápice de uma boa ideia extrapolada às mais estúpidas e exageradas circunstâncias, inventando conceitos implausíveis para justificar sua existência. Schwarzenegger, não precisa voltar.
Obs: Há uma breve cena durante os créditos. E tenha medo, ela promete mais continuações…