Arquivo para vingança

| Confiar | Um perturbador aviso e um ótimo filme

Posted in Cinema, Críticas de 2011, Drama, Suspense with tags , , , , , , , , , , on 24 de setembro de 2011 by Lucas Nascimento


A estreante Liana Liberato encara um papel dificílimo

David Schwimmer iniciou sua carreira como diretor de forma pouco estimulante e nada promissora (que eu me recorde, seu único filme foi a comédia Maratona de Amor). Pois bem, o eterno Ross de Friends evolui de maneira impressionante no perturbador drama Confiar que, além de um ótimo filme, é um poderoso alerta.

Na trama, a jovem Annie ganha um novo notebook em seu aniversário de 14 anos. Comunicando-se pela internet, ela conhece Charlie, com quem passa a conversar todo dia e desenvolve um tipo de ligação. Não demora até que um encontro entre os dois seja marcado e o sujeito revele-se um predador sexual.

Partindo de um conceito aparentemente simples (e que infelizmente ocorre com cada vez mais frequência nos dias de hoje), o roteiro assinado por Andy Beling e Robert Festinger oferece uma visita ao tema completamente diferente das já mostradas em outros longas, conseguindo entrar na mente da protagonista adolescente e explorar seus confusos (e complexos, diga-se de passagem) sentimentos sem o uso de clichês, mas sim com honestidade.

O que é tão perturbador quanto ao filme é a forma como o tema é retratado. Sem preocupar-se em amenizar o tom, Schwimmer coloca cenas fortes e sufocantes (que eu prefiro não revelar para não estragar a experiência), abordando o problema de pedofilia na internet do jeito que este ocorre e com uma direção segura e delicada, que aposta no talento de seu ótimo elenco.

A começar pela estreante Liana Liberato, que aguenta os pesados requisitos de sua personagem em uma atuação memorável e extrema. A atriz consegue passar os sentimentos – outrora confusos, noutrora profundos – sobre a situação em que se encontra (a cena em que finalmente se da conta da gravidade do problema é poderosíssima) acreditando que sua vida nunca mais seria a mesma. É um trabalho difícil para uma atriz tão jovem, mas Liberato acerta e merece reconhecimento na temporada de prêmios.

Também vale destaque seu pai Will, vivido por um Clive Owen que eu ainda não conhecia. Ao interpretar o desesperado pai de Annie, o ator entrega sua melhor performance desde Closer – Perto demais, caracterizando bem o sentimento de vingança e obsessão pela captura do criminoso (que em certo ponto chega a ser maior do que o desejo de conforto de sua filha), assim como sua fragilidade, e a culpa por ter falhado em proteger sua filha. Catherine Keener faz um bom trabalho também, tendo boa química com o elenco, mas o roteiro não parece preocupar-se em dar-lhe mais tempo em cena.

Confiar é uma das experiências mais perturbadoras e assustadoras do ano. Retrata um tema atual de forma real e sombria, explorando suas consequências psicológicas na vida da adolescente com maestria e muito drama. O fato de uma ferramenta criada para ajudar-nos servir de arma para criminosos sexuais e que a cada dia mais jovens caem em suas garras é preocupante.

E não vai ter filme mais assustador em 2011 do que este.

Ficha Técnica

Sangue no Gelo: Especial DEIXE-ME ENTRAR

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O remake do melhor filme sobre vampiros já feito enfim chega no Brasil, depois de quase 4 meses de atraso. Anseio muito pelo longa, acompanhem abaixo o primeiro especial do ano:

Desde que o projeto foi anunciado, foi massacrado e mal encorajado; principalmente pela já existente qualidade do original (pra quê refazer?) e o medo de transformá-lo em um Crepúsculo da vida. Felizmente, o diretor Matt Reeves não queria mudar nada da história, apenas dar seu toque pessoal e homenagear o original.

O remake foi desaprovado por Tomas Anderson (diretor de Deixe Ela Entrar), consistindo em como era uma refilmagem desnecessária. Entretanto, os direitos foram adquiridos e Reeves começou as filmagens, movendo a trama de Estocolmo para o Novo México. O cineasta também pediu para o elenco principal não assistisse ao original, para que sua versão não fosse uma mera cópia do filme sueco.

Apesar de manter fidelidade à obra e ao filme original, Reeves comentou em entrevistas sobre alguns elementos acrescentados na trama e detalhes visuais. A fotografia por exemplo, é mais escura e quente do que a gelada e branca paisagem sueca. A sombria trilha sonora ficou sob cargo do vencedor do Oscar do ano passado Michael Giacchino.

Deixe-Me Entrar estreou nos EUA em 1º de Outubro, rendendo muito pouco e ficando em 8º lugar no ranking de bilheteria da semana. Apesar disso, o longa foi incrivelmente bem recebido pela crítica, que duvidava da qualidade do filme.

O autor do livro em que se baseiam ambos os filmes, John Ajvide Lindqvist, ficou muito orgulhoso e aprovou os dois filmes, afirmando que possuem similaridades mas também características próprias.

 

Abby (Chloe Moretz)

 Com mais de 250 anos de idade, a vampira Abby se muda com seu servo para o Novo México, onde procura fazer mais vítimas. Ela se torna amiga do tímido Owen e logo se interessa nele. Mas suas intenções nunca são claras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Owen (Kodi Smith-McPhee)

 Solitário e distante de seus pais, o frágil Owen sofre com o bullying cruel em sua escola, sempre imaginando uma vingança cruel contra os agressores. Tudo muda quando ele conhece Abby e se apaixona, sem saber que ela é uma vampira assassina.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Pai (Richard Jenkins)

 Misterioso guardião de Abby, nunca têm seu nome ou origem revelada, apesar de muitos o confundirem como pai da jovem. A noite, sai para matar estranhos e coletar sangue para sua protegida.

 

 


Bullying e suas consequências

A história de Abby e Owen/ Eli e Oskar não limita-se a um simples conto de vampiros, mas também retrata de maneira realista e cruel o bullying e suas consequências nas vítimas.

As cenas em Deixa ela Entrar são muito fortes e frias e o cineasta também mostra o medo de Oskar em relatar para sua mãe – sempre distante – as agressões sofridas. A consequência é o interesse do menino em violência e assassinatos, recortando manchetes de jornais e jurando falsas ameaças com uma faca, sempre imaginando vingança. Sutil, mas muito eficiente, como Matt Reeves acrescentou elementos como a máscara (acima, na foto) e o voyerismo, visto no trailer.


Amor, interesse ou ambos?

E (spoiler se você não viu o filme original!) isso é ótimo para a vampira Eli, que encontra nesse frágil garoto, um futuro serial killer que possa substituir seu cansado guardião e continuar matando para ela, para sempre. Essa é uma das interpretações que o fim do longa apresenta; a outra, seria simplesmente o amor entre os protagonistas ou até mesmo, ambas.

As principais características do vampiro clássico:

Sangue

Você deve achar meio óbvio mas, vampiros se alimentam de sangue..! Isso mesmo, sem esse milagroso tecido líquido que corre pelo sistema vascular de todos os vertebrados, os dentuços não podem sobreviver.

Presas

Que saudade das icônicas presas! Nem Crepúsculo nem Deixa ela Entrar preservou a principal ferramenta para extração de sangue, que também era a assinatura dos vampiros. Só a série True Blood parece ter se lembrado delas.

Idade

Acho que essa serve para praticamente todas as caracterizações vampirescas já produzidas; as criaturas não envelhecem e nunca morrem de causas naturais. Possuem a aparência que tinham ao se tornar vampiros.

Luz do Sol

Eu acho a invenção da Stephanie Meyer ridícula. Vampiros clássicos não brilham na luz da sol, eles pegam fogo; o que é a principal justificativa de serem considerados criaturas noturnas.

Deixe-me entrar

Não sou muito expert no assunto, por isso não sei se o elemento que nomeia tanto Deixa ela Entrar quanto Deixe-Me Entrar já fazia parte das “tradições vampirescas”, mas acho genial. Se o vampiro entrar em algum lugar sem permissão, o resultado não é nada agradável

Estaca

A maneira mais famosa de liquidar um vampiro curiosamente não aparece em nenhuma das adaptações atuais sobre as criaturas. Muito sutil: uma estacada no coração acaba com o sanguessuga.

Alho

Pode parecer absurdo e bobagem, mas o alho é acolhido por muitas obras de ficção e literatura como uma arma eficáz contra vampiros, ajudando a repeli-los.

O grande trunfo de Deixa ela Entrar – e ele deve ser respeitado no remake – é a atmosfera, o tom criado pelo diretor. É um longa quieto, mas com uma crescente sensação de perigo se alastra sobre os personagens. Alguns exemplos de outros filmes com esse genial elemento:

Sinais

Grande parte do mérito vai para a inquietante trilha sonora de James Newton Howard, que tempera de maneira sombria esse silencioso filme de alienígenas. É um filme silencioso, os personagens sempre acompanham os eventos da invasão (que nunca é detalhada) pela televisão, o que faz o espectador imaginar como estaria o mundo fora desta pequena fazenda.

Janela Indiscreta

Mesmo sendo mais divertido do que a maioria de seus representantes no assunto, o clássico de Hitchcock é um eficáz suspense que consegue formar o tom apropriado por dois motivos básicos: o fato de o filme inteiro se passar no apartamento de James Stuart e a premissa; um vizinho assassino, que ajuda a criar a sensação de perigo em todo lugar.

Zodíaco

Reforçando a sensação de perigo de Janela, o retrato do serial killer que aterrorizou São Francisco nos anos 60 é inquietante por a) se tratar de um caso policial verídico que nunca teve o culpado capturado; b) pela fotografia escura e a direção de David Fincher, especialmente no ataque do taxi que começa com uma pessoa qualquer chamando-o e passa para um longo plano-sequência do taxi percorrendo a cidade. Brilhante.

Sem dúvida a mais talentosa atriz mirim da atualidade, a jovem Chloe Grace Moretz encara um papel mais interessante do que o outro, sempre interpretando personagens fortes e memoráveis.

Nascida em Fevereiro de 1997, começou com papeis pequenos na televisão, em seriados e telefilmes, até chamar a atenção em 2005 no remake Horror em Amityville, onde foi indicada ao Young Artist Awards. Depois de papeis de mais destaque em filmes maiores (porém mais fracos), Moretz contracenou com Joseph Gordon Levitt em (500) Dias com Ela, fazendo o papel da irmã do protagonista.


Hit-Girl: Até agora, sua performance mais memorável

Mas a bomba estourou em 2010, quando a atriz estrelou Kick-Ass: Quebrando Tudo, no papel da polêmica vigilante de 12 anos Hit-Girl. Grande performance, carismática e natural, foi elogiada por todos que assistiram o filme. E também, Deixe-Me Entrar, mais um grande papel e sua atuação foi muito bem recebida.

Confira abaixo seu teste para a vampira Abby:

Fiquem de olho nessa menina, têm talento e carisma e promete ser um dos grandes nomes de Hollywood no futuro.

Confiram abaixo o vídeo sobre o filme que montei já faz uns dois meses. Aproveitem.

Bem, o especial acaba aqui, mas não deixe de ler a crítica, que deve ser publicada na Sexta-Feira.