Certamente sou um caso à parte, mas eu nunca tinha lido ou pesquisado a respeito de O Pequeno Príncipe, clássico infantil do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry. Só quando sentei para assistir a esta adaptação em forma de animação que de fato entrei em contato com as inúmeras lições e mensagens que a história transmite em seus complexos 108 minutos. Ainda
A trama é esperta por se ambientar num mundo no qual O Pequeno Príncipe existe, sendo o elo de ligação de uma Jovem Menina (Clara Poincaré, no original em francês) com um velho Aviador (André Dussolier) que teria encontrado o Príncipe do título em uma de suas viagens. Uma improvável amizade nasce entre os dois, enquanto o mais velho tenta ensinar as lições de sua história enquanto procuram uma forma de reencontrar o enigmático Príncipe.
Até onde histórias infantis vão, O Pequeno Príncipe é incrivelmente maduro. Em seu núcleo, temos uma história repleta de importantes mensagens de vida, que vão desde o amadurecimento humano até a responsabilidade por atos individuais e valorização de um por certo momento, todas envoltas numa prosa requintada e rodeada de simbolismos. Quando o filme de Mark Osborne (responsável também por Kung Fu Panda) mergulha na historia de Saint-Laurent, a animação assume um lindíssima técnica stop motion ultrarrealista, conferindo no processo uma áurea quase mística para o Príncipe, que quase hipnotiza o espectador com seu olhar escuro e, ao mesmo tempo, curioso.
Na narrativa principal, a (inferior) animação 3D assume uma estética quase simétrica e com paletas cinzentas a fim de representar um mundo burocrático e obcecado com organização. A exceção fica com a casa do Aviador, marcada por cores mais vivas e um colorido quintal, que logo enfeitiçam a Jovem Menina para se libertar do mundo quase autoritário no qual habita. Quando esta parte para encontrar o Príncipe, é transportada para um mundo sombrio e que exacerba todas as características de seu próprio cotidiano, além de misturar-se elegantemente com as ideias de Saint-Laurent: mostrar as consequências da história do livro é uma decisão ousada, e que funciona bem dentro da diegética de Osborne. A imagem da Jovem Menina sendo acorrentada por grandes empresários engravatados em uma carteira escolar é provavelmente a mais icônica do longa, sendo poderosa o bastante para lembrar o clássico The Wall, do Pink Floyd.
O Pequeno Príncipe é uma delicada e inteligente adaptação do clássico de Saint-Exupéry contando com lindíssimas técnicas de animação stop motion e um roteiro forte que certamente deve agradar aos fãs.